Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Verbo pouco divino

Impropérios da ministra Damares e deslize da deputada Tabata dão o que falar no Twitter

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Ovacionada na Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac Brasil), no sábado (12), em um hotel de São Paulo, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, talvez pretendesse apenas retribuir os aplausos de sua crédula audiência.

Mas a frase que acabou proferindo —como aquela sobre “Jesus na goiabeira”, em dezembro— de novo subiu aos céus dos Trending Topics do Twitter. 

O ativista LGBT e coordenador do coletivo #ResistaSP repercutiu quase em tempo real na plataforma a esdrúxula afirmação da ministra: @delucca “Estou aqui há 24 horas com este público, a maioria jovem, e ninguém me ofereceu um cigarro de maconha e nenhuma menina introduziu um crucifixo na vagina”, diz a ministra Damares Alves, fazendo proselitismo religioso e conservador com o dinheiro público em um evento do Governo.”

A economista Elena Landau, ex-diretora do BNDES durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), espantou-se: @elenalandau “Estou há 61 anos e nunca soube que meninas introduziam crucifixos na vagina. Essa mulher é doente.”

O ex-PM e deputado federal pelo PSL-RJ, @danielIPMERJ, viu, ao contrário, razão e destemor nas palavras da ministra: “Parabéns, ministra @DamaresAlves! Um discurso corajoso, destemido... Um discurso de alguém que enfrenta os covardes ataques daqueles que arrotam humanismo, utilizando apenas uma arma: A VERDADE.”

O influenciador digital progressista @MaxResende5 disse outras verdades: “Nunca tive notícia de jovem introduzindo crucifixo na vagina. Já o Coronel Ustra, herói do Bolsonaro, introduzia ratos nas vaginas das torturadas. Eu jamais deixaria uma criança que estivesse aos meus cuidados chegar perto da Damares ou perto de um bocado de gente desse governo.”

Jornalista e comentarista do programa Saia Justa, na GNT, @barbaragancia foi a única que pareceu perceber a referência à célebre cena do filme O Exorcista, do diretor William Friedkin, em que a menina possuída pelo demônio se masturba com um crucifixo: “Quem seria o diretor ideal do filme ‘Damares, a Estranha’? John Carpenter, David Cronenberg, Pier Paolo Pasolini ou Zé do Caixão?”

Já a apresentadora do Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes, @thaisheredia, recorreu à recém-canonizada santa brasileira para esconjurar a retórica damareana: “Irmã Dulce deve tá horrorizada vendo lá do paraíso (ela foi pra lá!!) essa gente desmiolada, tirana e sobretudo desrespeitosa com cargo de ministro no BR! Deus nos livre, digo sem demora!!”

Coach de Cristo

Foi justamente por causa de um tuíte sobre Irmã Dulce neste domingo (13) que a deputada @tabatamaralsp —vítima, em abril, de um “elogio contra” de Damares em uma audiência na Câmara, quando a ministra sugeriu que a deputada era “tão linda” que não precisava “nem abrir a boca” para brilhar no Parlamento—, cairia também na boca do Twitter.  

@tabatamaralsp “Me enche de orgulho que a Irmã Dulce tenha sido a primeira brasileira a ser canonizada. Santa Dulce dos Pobres era baiana e, com seu empreendedorismo e fé, deu atendimento de saúde a milhares de brasileiros. Nunca deixou que sua própria saúde frágil a impedisse de se doar.”

A palavra sem salvação, no caso, foi “empreendedorismo” —ao menos do ponto de vista de alguns tuiteiros de esquerda. 

Para o jornalista e editor da Revista Fórum, @renato_rovai, “o diabo mora nos detalhes. Diz muito destacar o ‘empreendedorismo’ de uma pessoa que praticou o amor, a caridade, a solidariedade e sonhava com um mundo mais justo.”

A antropóloga e pesquisadora da Brown University, @Debora_D_Diniz, anotou: “Descrever Santa Dulce dos Pobres como ‘empreendedora’ é a prova de que o capitalismo coloniza até mesmo o vocabulário divino.”

Já @lucasapaulino, doutorando em direito pela UFMG e membro do movimento Acredito, preferiu pregar a concórdia: “Tabata teve um pequeno deslize na comunicação hoje. Uma palavra fora de lugar. Mas estão fazendo tempestade num copo d’água, na boa. Esse nível de escrutínio que fazem nela se fosse feito com os tweets de qualquer um aqui não sobrava ninguém. Totalmente desproporcional.”

Linha do Equador

Um tuíte pouco diplomático do chanceler brasileiro @ernestofaraujo também foi muito comentado na plataforma: “A América do Sul está mobilizada em defesa da democracia no Equador, onde forças de esquerda, apoiadas na rede criminosa do Foro de S. Paulo, com violência e vandalismo, tentam solapar o Presidente legítimo Lenin Moreno. A ameaça é continental, a resposta tem que ser continental.”

@rubensvalente, repórter da Folha em Brasília e autor de "Os Fuzis e as Flechas" (Companhia das Letras, 2017), foi um dos que ponderou: “Em condições normais, um país da importância do Brasil seria chamado a apresentar provas de que os indígenas do Equador são ‘apoiados por uma rede criminosa’. Nem mesmo o presidente do Equador faz essa acusação.”

Mal na foto

A revelação de que membros da Polícia Civil do Rio “perderam” imagens da câmera de segurança de um estabelecimento na Tijuca que teriam possibilitado a identificação imediata dos assassinos da vereadora Marielle Franco —morta há um ano e sete meses, num crime que até hoje não teve seus mandantes apontados— provocou protesto no Twitter. 

A colunista da revista Época e colaboradora do New York Times Em Español, @pirescarol, demonstrou incredulidade: “‘O arquivo não podia ser acessado porque foi salvo em formato errado’ –não é possível que os investigadores não têm treinamento para recolher esse tipo de prova.”

Sopa de letrinhas

Um gracejo do deputado e candidato a embaixador @BolsonaroSP acabou se voltando contra ele mesmo. O tuíte de domingo (13), com sua foto usando uma camiseta zombando da sigla LGBT, dizia: “O conceito de LGBT foi atualizado com sucesso por uma equatoriana que mora na Argentina e me deu essa camisa aqui no Brasil. Curtiram?”

Diversas postagens surgiram na sequência sugerindo a inclusão de mais um item na camiseta. Entre elas, a da consultora e integrante do movimento Renova BR, @leticiaarsenio “Faltou uma letra!”

No caso, “Q”, de Queiroz, pivô do escândalo que envolve o irmão de Eduardo, Flávio Bolsonaro.

Vazante?

Breaking news internacionais sobre dificuldades dos regimes autocráticos mundo afora também repercutiram no Twitter. No resumo do comentarista da GloboNews, @andrefran, “oposição a Orban vence em Budapeste. Extrema-direita da Espanha teve derrota esse ano. Salvini tem revés na Itália, Derrota acachapante na Dinamarca. Derrota em Portugal e na Holanda. Brexit patinando. Trump, impeachment... Esse soluço global de extremismo é passageiro.”

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