Morreu há duas semanas, aos 75, Sacheen Littlefeather (pequena pena), a ativista indígena que ficou famosa por representar Marlon Brando na cerimônia do Oscar de 1973.
Filha de nativo americano e mãe europeia, ela havia conhecido Brando e Francis Ford Coppola pouco antes, durante a produção de "O Poderoso Chefão".Brando se interessava pelo assunto —em 1970, deu para sua filha o nome Cheyenne, o mesmo de uma tribo. Nomeado ao Oscar de melhor ator pelo filme, ele mandou Littlefeather em seu lugar.
Acontece que ele venceu o prêmio e a enviada especial explicou que Brando estava recusando o Oscar em protesto pela representação estereotipada de nativos no cinema.
Littlefeather saiu do palco entre aplausos tímidos e vaias estrondosas —dizem que John Wayne teve que ser contido por seis seguranças para não arrancá-la de lá à força.
Depois, foi ridicularizada no discurso dos atores Raquel Welch ("espero que o próximo vencedor não tenha uma causa") e Clint Eastwood ("devo dedicar esse prêmio aos caubóis que foram mortos nos filmes de John Ford?").É curioso que, por mais de quarenta anos, pouquíssima gente entendeu que o protesto de Brando e Littlefeather era legítimo, preferindo creditar o ato às idiossincrasias de um artista doidivanas.
Mas a roda gira e hoje, com a correção política e a consolidação do respeito aos direitos das minorias, Sacheen Littlefeather passou a ser vista de forma positiva. Há quatro meses, o Oscar lhe enviou um pedido de desculpas.
Dias após a morte Littlefeather na Califórnia, duas ativistas do grupo Just Stop Oil (apenas parem com o petróleo) jogaram duas latas de sopa de tomate Heinz no quadro "Os Girassóis", de Van Gogh, em um museu em Londres.
Anna Holland, 20, e Phoebe Plummer, 21, foram severamente criticadas. Disseram que sabiam que o quadro possuía um vidro na frente e que jamais teriam praticado o vandalismo caso a pintura acabasse danificada."Reconheço que a ação foi meio ridícula. Eu concordo; é ridículo", disse Plummer, explicando que a intenção foi chamar a atenção para questões que importam.
É de se imaginar que, em um futuro não muito longínquo, em que os humanos já tenham conseguido corrigir o curso de destruição do planeta, a opinião pública sobre casos assim também possa mudar.
Talvez Holland e Plummer passem a ser vistas como heroínas à frente do seu tempo. Talvez elas até virem estátuas por terem ajudado a salvar o mundo. E se tornem mais importantes do que um quadro que vale meio bilhão de reais.
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