Saudações, caro Ruy. Me pediram para escrever no seu espaço —só hoje, nessa sua rara folga— e, como compartilho seu amor pelos sebos e vinis, trago aqui uma história da capital espanhola que pode lhe interessar.
No século passado, havia aqui na Gran Vía, 25, principal avenida da cidade, uma loja de discos chamada Madrid Rock, fundada em 1981. Já sei sua opinião sobre o rock, Ruy, mas aguente até o final, por obséquio.
Bandas como Guns N’Roses e Aerosmith passaram pelo local, assinando discos e guitarras para os roqueiros de Madri. Entre eles, havia os gêmeos José e Emílio Alcázar e um irmão mais novo, Eufrásio.
O trio respirava rock, engolia LSD e injetava morfina despreocupadamente, até que Eufrásio morreu de overdose. Isso foi em 1992 e transformou os remanescentes em ferrenhos ativistas antidrogas.
Em 2005, uma nova tragédia transformou a vida dos gêmeos: o fechamento da Madrid Rock. Inconformados, passaram a ir todos os dias para a frente da loja fechada, empunhando cartazes contra o fim de uma era.
O local reabriu como magazine de roupas, mas eles não se importaram. Até hoje, continuam indo todas as noites, lá pelas 19h, e ficam parados na porta até umas 22h. Os irmãos não conversam entre si; apenas se olham, com suas botas e tachas, a uma distância de três ou quatro metros.
A curiosidade chegou aos jornais e, volta e meia, uma reportagem aparece contando que os gêmeos, apelidados de "los heavies de Gran Vía", vivem de comer o lixo das lanchonetes ao redor, o que, de fato, eles não negam.
Minha dúvida ao abordá-los era sobre preferências roqueiras. José ama a música "Fat Bottomed Girls" (1978), do Queen. Emílio elege "Stairway to Heaven" (1971), do Led Zeppelin.
Vamos lá, Ruy, dá um desconto aos heavies de Madri e coloca essas duas faixas na sua vitrola! Você pode até torcer o nariz, mas, depois de 18 anos protestando contra o fim de uma loja de discos, os caras merecem uma chance.
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