Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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China e parceiros regionais desafiam tendências protecionistas

Palcos asiáticos testemunham novas iniciativas pelo aprofundamento da integração econômica

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Enquanto proliferam em países ocidentais anúncios sobre a suposta “morte da globalização”, veiculados por defensores do protecionismo comercial e do nacionalismo exacerbado, palcos asiáticos testemunham novas iniciativas pelo aprofundamento da integração econômica.

Avanços integracionistas desafiam a lógica da “slowbalization”, expressão usada pela revista britânica The Economist para descrever a desaceleração, nos últimos anos, de tendências globalizantes.
 
No começo do mês, na Tailândia, 15 países anunciaram a conclusão de negociações inauguradas em 2012 e arquitetadas para construir o maior bloco de livre comércio, conhecido como Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês).

Prometem assinar o acordo, liderado pela China, em 2020, em relevante impulso à globalização.

Da esq. para a dir., os premiês de China, Li Keqiang, Thailânida, Prayuth Chan-Ocha, Vietnã, Nguyen Xuan Phuc, Austrália, Scott Morrison, e Japão, Shinzo Abe, em encontro do RCEP em Bangcoc
Da esq. para a dir., os premiês de China, Li Keqiang, Thailânida, Prayuth Chan-Ocha, Vietnã, Nguyen Xuan Phuc, Austrália, Scott Morrison, e Japão, Shinzo Abe, em encontro do RCEP em Bangcoc - Athit Perawongmetha - 4.nov.19/Reuters

Na espinhosa missão a misturar interesses geopolíticos e comerciais, Pequim avançou na costura de um alinhamento entre Japão, Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul e os dez integrantes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean): Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã.
 
A montagem do quebra-cabeças, naturalmente, não se dá sem gigantescos desafios. Na reunião de anúncio de fim de negociações, a Índia optou por desistir da aliança, alegando identificar mais ameaças do que oportunidades nessa abertura comercial.
 
Pressões japonesas acompanharam o recuo indiano. Na sexta-feira, o Japão afirmou condicionar participação no bloco à adesão da Índia. Ou seja, até o anúncio festivo em 2020, mais acrobacias diplomáticas surgirão para viabilizar iniciativa de amplitude mastodôntica.
 
Mesmo com suas idas e vinda, a criação de um gigantesco bloco de livre comércio funciona como munição importante aos defensores da globalização. Se nos EUA e na Europa sopram ventos protecionistas e nacionalistas; na Ásia persistem vetores apoiados em integrações políticas e econômicas.
 
Globalização cristalizou-se como termo a descrever o período pós-Guerra Fria, moldado por uma intensificação, sem precedentes na história, de fluxos comerciais, financeiros, migratórios e de disseminação de informação.

Viveu sua era dourada de 1989 a 2009, entre a queda do Muro de Berlim e a crise financeira internacional.
 
Dez anos atrás, com estouro de bolhas especulativas e crises bancárias, ficaram evidentes desequilíbrios criados pela globalização contemporânea.

Houve empobrecimento sobretudo de setores da classe média norte-americana e europeia, com o deslocamento de renda e empregos para países asiáticos, devido à decolagem econômica capitaneada por China e Índia.
 
Ondas nacionalistas e protecionistas, apoiadas no questionamento à globalização e alimentadas também pela crise migratória de 2015, prosperaram nos EUA e na Europa.

Elegeram Donald Trump, endossaram o brexit e sustentaram avanços da extrema direita em países como França, Alemanha e Espanha.

Certa feita, questionado sobre os riscos de a China comunista abandonar o isolamento e ser contaminada por “tendências estrangeiras nocivas”, Deng Xiaoping (1904-1997) ponderou: “Quando abrimos a janela para permitir a entrada de raios solares, entram também algumas moscas”.
 
A lógica do arquiteto das reformas chinesas se aplica à globalização contemporânea.

Fronteiras mais porosas certamente ampliam desafios, por exemplo, no combate à imigração ilegal, ao crime organizado e ao terrorismo.

Mas o cenário do século 21 aponta, como sugerem países asiáticos, para inevitável intensificação de contatos no mundo do comércio, dos negócios, da tecnologia e do conhecimento.
 
Trata-se, portanto, de corrigir os rumos da globalização, e não de abandoná-la.

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