Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Jaime Spitzcovsky

Nova etapa de enfrentamentos no Oriente Médio pode envolver Irã e Israel

Fantasma da guerra entre Washington e Teerã, por ora, se dissipou

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O fantasma da guerra entre Washington e Teerã, por ora, se dissipou, mas permanece o risco de outro conflito bélico, com potencial devastador, envolvendo Israel e Irã. Lamentavelmente, ingredientes para o confronto se intensificam, com ameaças iranianas de acelerar a corrida por armas nucleares, de expandir programa de mísseis e de se entrincheirar em solo sírio, nas cercanias da fronteira israelense.

À direita e à esquerda, lideranças israelenses alertam sobre os riscos da estratégia iraniana, de transformar a Síria em plataforma para pressionar o Estado judeu, como já é feito a partir do Líbano. O libanês Hizbullah, criado e financiado pelo regime dos aiatolás, mantém mísseis apontados para alvos israelenses, em engrenagem fundamental na tática do Irã para enfrentar o arquirrival.

No DNA da Revolução Islâmica de 1979, responsável por derrubar a ditadura pró-Ocidente do xá Reza Pahlevi, encontra-se a declaração de “livrar o Oriente Médio do imperialismo dos EUA e de seu aliado israelense”. O regime teocrático iraniano, para justificar sua anacrônica existência, busca apoio em “narrativas libertadoras” e defende a eliminação de Israel.

Retrato do general Qassim Suleimani, morto pelos EUA em um ataque em Bagdá e que aumentou as tensões no Oriente Médio - Vasily Fedosenko/Reuters

Arroubos revolucionários, naturalmente, esbarram na realidade, e o Irã, na crise recente, recuou diante da ameaça de um conflito de grandes proporções, cenário, no momento, também rejeitado pelos EUA.

O ponto agora é saber qual a extensão da aposta do regime iraniano na estratégia de ampliar influência regional e de pressionar não apenas Israel, mas também outro rival relevante, a Arábia Saudita, de maioria sunita, enquanto iranianos seguem majoritariamente a vertente xiita do islamismo.

Na teia de rivalidades do Oriente Médio, a disputa entre Irã e Israel apresenta crescente facilidade de combustão, com o anúncio iraniano de abandonar o acordo nuclear de 2015, assinado com potências globais e, três anos depois, rejeitado por Donald Trump.

Importante notar que o pensamento militar israelense carrega a doutrina Begin, batizada em homenagem ao primeiro-ministro responsável por ordenar, em 1981, ataque contra a usina nuclear de Osirak, no Iraque de Saddam Hussein.

Dois dias após o bombardeio, o então premiê Menachem Begin declarou: “Devemos defender nosso povo com todos os meios à nossa disposição. Não devemos permitir a nenhum inimigo desenvolver armas de destruição em massa que sejam direcionadas contra nós”.

Em 2007, aviões israelenses bombardearam instalação nuclear na Síria. Embora medida semelhante não tenha sido adotada em relação ao Irã, em Israel não se descarta a aplicação da doutrina Begin, caso, em cenário extremo, o regime iraniano aumente a aposta e esteja efetivamente prestes a montar uma bomba atômica.

Portanto, a retomada do programa nuclear recentemente anunciada por Teerã alimenta temores de nova escalada bélica regional.

É preciso, para evitar a tragédia da guerra, recuperar um acordo com o regime iraniano, a fim de estancar a marcha rumo à bomba atômica, num entendimento amplo e que não corresponda a um cheque em branco à ditadura de Teerã.

Além de estancar o apetite nuclear, o Irã, em troca de incentivos econômicos, deve restringir seu arsenal de mísseis e abandonar a estratégia de controlar países do Oriente Médio, como Líbano, Síria e Iraque.

Recentemente, o Irã reprimiu com violência manifestações domésticas provocadas pela crise econômica. Talvez o regime de Teerã conclua que, para sobreviver no poder, seja melhor refazer um acordo nuclear e oxigenar a economia do que apostar em obsoletos projetos expansionistas.

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