É escritor. Foi selecionado em 2012 pela revista britânica "Granta" como um dos 20 romancistas brasileiros mais promissores com menos de 40 anos.
Um silêncio ensurdecedor
Na semana passada este jornal publicou um texto meu sobre proibicionismo. Eu me posicionei contra a desastrosa política de combate às drogas e cobrei que formadores de opinião assumissem o consumo delas.
O objetivo seria desmistificar o uso dessas substâncias, uma vez que a marginalização do usuário é o principal pilar do proibicionismo —a fantasiosa suposição de que, liberadas, as drogas transformariam nossa sociedade num pandemônio. Uma falácia que cretinos de todo o mundo, patrocinados ou não, repetem sem pudor.
Completo: é uma guerra com dois lados. O primeiro é o das organizações que ganham fortunas com a proibição, traficantes e instituições de controle, como polícias e agências governamentais. Por trás desse mercado violento e lucrativo, lobistas da repressão e fabricantes de armas.
O segundo lado é o da população civil perdida no fogo cruzado. Como reprimir mata mais que usar, o interesse dessa guerra não é nosso, mas deles. Não falo aqui sobre quem está na linha de tiro, mas em quem conta a grana que entra no topo da pirâmide, seja orçamento ou remessa. Tanto o traficante armado quanto o PM na esquina da boca são bucha de canhão diária de uma guerra mentirosa promovida por canalhas.
(Sobre isso, aliás, chama atenção que autoproclamados novos intelectuais de direita, daqueles que abrem o bico para enumerar bastiões do liberalismo, não comprem em suas colunas, institutos ou subterrâneos blogs a briga contra a política que mais mata brasileiros. Descontando o custo humano, a guerra contra as drogas é caríssima para o Estado e gera um mercado extremamente ineficiente. É bizarro que um liberal tenha opiniões tão contundentes sobre a interferência do Estado na economia e cale-se sobre a regulação excessiva do consumo individual de determinadas substâncias. Sem falar do silêncio sobre o casamento gay, o aborto e do abraço a golpistas e homofóbicos em Brasília. São libertários ou evangelistas? Nunca leram John Stuart Mill? Milton Friedman? Mises? Com poucas exceções, os libertários brasileiros costumam ser uma vergonha para o liberalismo.)
Voltando à semana passada: abri minha gaveta cobrando que formadores de opinião fizessem o mesmo. Não é simpática a abordagem, mas sabemos que um tiroteio ou uma dura numa favela é muito menos. Ao final, acusei todo mundo de estar com a mão suja, como já fiz em outras diatribes de velho senhor gritando com o jornal.
Não se trata de uma busca catártica por culpados, impulso que satisfaz nossos anseios mais moralistas ("Ah, esses globais chincheros que não usam o espaço que têm pra mudar alguma coisa!"), mas simplesmente de uma chamada à responsabilidade.
Infelizmente, tirando a Laerte e alguns amigos próximos, ninguém se manifestou. O texto foi muito lido e recebi inúmeros apoios, mas no meio artístico fez-se um silêncio ensurdecedor, como diria Nelson Rodrigues diante do Maracanazo em 1950.
Dirigi minha chamada aos artistas porque, ingênuo, acho que estes estão na vanguarda da sociedade. Talvez não seja o caso do Brasil, onde o medo da pindaíba gera nossa censura velada de cada dia.
Há contratos, editais e aquele biquinho de publicidade, sabemos. É por isso que dessa vez convido todos: artistas, formadores de opinião, doutores, estudantes, engenheiros, operários, deputados etc. Se você quiser abrir a gaveta num breve depoimento, escreva para anatelles@ucamcesec.com.br e contribua com a campanha "Da proibição nasce o tráfico".
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