Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

Quem é a única pessoa capaz de tirar Bolsonaro do sério?

O Brasil precisa saber por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle

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Ao dizer que tem vontade de "encher tua boca com porrada" a um repórter, o presidente nos transportou de volta no tempo para longínquos seis meses atrás. Era esse tipo de reação que esperávamos quase diariamente da grosseria presidencial: xingando jornalistas, brigando com deputados, atacando o Supremo, ofendendo nações aliadas. E agora? Acabou o "Jairzinho paz e amor"? Uma resposta pôs a perder o esforço de meses de reorientar o governo? Não tão rápido.

Não foi à toa que Bolsonaro mudou de orientação alguns meses atrás. Foi por uma necessidade básica de sobrevivência. Em menos de um ano e meio de mandato, já se discutia abertamente a possibilidade impeachment.

Irresponsabilidade completa na pandemia, investigações sobre seu passado no Rio e sobre o gabinete do ódio, declarações golpistas e desonrosas que, por si só, já poderiam ser interpretadas como crime de responsabilidade.

Tudo isso passou quando Bolsonaro abraçou o centrão. As falas para a imprensa se tornaram mais protocolares. O ministro militante da Educação foi demitido. Nomeou-se um novo ministro da Comunicação. Abandonou-se qualquer aparência de combate à corrupção. Cargos de segundo escalão foram dados a membros das legendas aliadas.

Talvez a mudança mais simbólica tenha sido trocar o líder do governo na Câmara: saiu o bolsonarista Major Vitor Hugo, do PSL, para entrar Ricardo Barros, do PP, que em 2019 dizia: "Se precisar demitir o presidente, nós demitimos, ele não pode demitir o Congresso".

Desde então, não se fala mais em impeachment. Os números da popularidade sobem, impulsionados pelo auxílio emergencial. O acerto com os partidos de centrão segue firme e forte, bem como as novas diretrizes da comunicação.

A resposta grosseira mostra, contudo, um ponto vulnerável. Se tem alguém que pode tirar Bolsonaro do sério é Fabrício Queiroz.

Surpresas ruins que surjam do caso Queiroz apenas aumentam o preço do centrão. Se a imprensa não cooperar —e é seu dever não cooperar— e continuar esfregando os fatos na cara da opinião pública, Bolsonaro pode se ver forçado a radicalizar mais uma vez.

O ex-PM Queiroz era funcionário do gabinete de Flávio. Mas fazia transferências para Michelle. E sua filha trabalhou para Jair —até onde se sabe, recebendo dinheiro público sem ter sequer pisado em Brasília. Além dos muitos e profundos vínculos com a família Bolsonaro, Queiroz é também próximo de milicianos cujos parentes também trabalharam no gabinete de Flávio.

Um esquema de "rachadinha" com lavagem de dinheiro via loja de chocolates e compra de imóveis é um crime; é prática condenável. No entanto, não é exatamente raro. Quantos gabinetes políticos do Brasil não têm algo similar? Se, contudo, os tentáculos financeiros do clã Bolsonaro se estenderem também às milícias do Rio —ajudando a sustentar gangues que extorquem, chantageiam e matam—, daí não estamos mais falando de pequena corrupção, e sim de crime organizado.

O animal fica mais agressivo no momento em que se vê mais ameaçado. Bolsonaro deixou claro que fará de tudo para sobreviver; inclusive tramou golpe militar para fechar o Supremo, segundo a Piauí. Queiroz fê-lo buscar a conciliação.

Se isso não abafar o caso, pode fazê-lo reverter à agressividade original. Seu desconcerto para falar sobre o caso indica, na falta de maiores evidências, que ele tem o que temer. Grosserias e showzinhos à parte, o Brasil precisa saber: por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro?

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