Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca
Descrição de chapéu Eleições 2022

Diga NÃO ao janonismo cultural

Notícias falsas empobrecem o debate e tolhem a liberdade de expressão

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O nível de campanha eleitoral sempre foi baixo. Mas em 2018 Bolsonaro varreu o panorama eleitoral numa campanha que bateu todos os recordes de mentiras, calúnias e fake news. Agora, em 2022, está fazendo de novo. A diferença é que a oposição hoje sabe um pouco melhor como reagir. E alguns petistas estão, inclusive, fazendo igual.

O principal exemplo é o deputado André Janones. Veicula e promove fake news contra Bolsonaro de todas as maneiras possíveis. Vídeos sensacionalistas, acusações infundadas, tom apocalíptico. Está agora criando um exército de voluntários para aumentar ainda mais o alcance desse material. Até ontem a ordem do dia era acusar Bolsonaro de pedofilia. O TSE proibiu essa, mas tenho certeza que amanhã aparecerá uma nova.

Pessoa usa o celular, com imagem de uma cidade ao fundo
Notícias falsas empobrecem o debate e tolhem a liberdade de expressão - Adobe Stock

Bolsonaro disse que passou as piores 24 horas de sua vida. Há uma justiça cósmica aí, se pensarmos em todas as pessoas que ele e seus comparsas já difamaram, infernizaram e até aterrorizaram com suas mentiras. Ao mesmo tempo, é óbvio que Bolsonaro não é pedófilo e que a tentativa de fazer parecer depende de muita má-fé.

Não falta quem celebre a estratégia, que parece estar rendendo frutos. O "gabinete do ódio" bolsonarista está desnorteado. Saiu do modo ataque para o modo defesa. Temo, no entanto, que para o Brasil essa normalização das fake news e das milícias digitais seja nociva.

Fake news, calúnias e todo o resto são muito danosos à ordem social. Primeiro porque nos afastam da verdade. Segundo, porque empobrecem o debate. Canibalismo, pedofilia, tráfico sexual e tortura de crianças, satanismo, maçonaria, orientação sexual, falso atentado. Essa foi a agenda das últimas semanas enquanto o Brasil se prepara para definir seu futuro. Terceiro, porque intimidam os participantes e tolhem a liberdade de expressão.

E em quarto lugar porque promovem o fanatismo e a polarização que estão destruindo a sociedade. Lembrando que polarização não é a existência de ideias divergentes, mas o ódio e a desconfiança que fazem cada lado ver no outro, não um adversário legítimo na democracia, mas um inimigo a ser extirpado. O tipo de política que ela elege, dado a grandes mostras simbólicas de radicalismo, mas incapaz de entregar resultados, também contribui para a disfuncionalidade da política.

Uma outra abordagem tem sido adotada pelo Felipe Neto, maior youtuber do Brasil e apoiador aguerrido de Lula nesta eleição: ele pega as fake news bolsonaristas mais populares do momento e publica refutações em vídeo, sempre de forma incisiva e bombástica, para gerar engajamento. Aí há o uso eficaz da linguagem das redes sem a mentira e a desinformação. Tanto ele quanto Janones são atores centrais das discussões nas redes, tal como medido pelo analista de dados Pedro Barcielo, em análise em sua conta de Twitter.

É um dilema eterno da guerra e também da política - que, como dizia Foucault invertendo a máxima de Clausewitz, é guerra por outros meios. Se estamos cercados de adversários maus, ser bom pode significar o suicídio. Quando a Alemanha começou a usar armas químicas na Primeira Guerra, a Inglaterra teve que fazer igual. Ao mesmo tempo, se todos optarem por usar a bomba, não sobrará mundo depois da guerra.

Bem sei que, neste momento, a discussão ética é inócua. Os dois lados estão convencidos de que precisam dessas estratégias para vencer e nada vai impedi-los. Aqueles de nós que não compactuam com essas práticas, no entanto, já têm que ir pensando em como intervir no debate público para que, no futuro, essas práticas não prosperem. Depois das eleições, é preciso que ainda haja um Brasil.

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