Jorge Abrahão

Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

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Você mudaria de cidade? 63% dos paulistanos disseram que sim

Série de pesquisas 'Viver em São Paulo' mostra a realidade da cidade

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Em 2019, a cidade de São Paulo ganhou um diagnóstico preciso sobre a qualidade de vida de seus moradores por meio de 12 pesquisas temáticas divulgadas ao longo do ano.

Iniciativa da Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope, a série “Viver em São Paulo” apresenta conclusões que piscam como sinais de alerta ou faixas fluorescentes que indicam caminhos. Delas surgem análises preciosas para a melhoria da qualidade de vida e que podem servir como referência para muitas cidades do Brasil.

Soubemos, por exemplo, que 74% dos paulistanos já sofreram ou presenciaram acidentes nas calçadas, que 76% deles se locomovem a pé para suas atividades com frequência (o maior patamar desde 2015), e que as pessoas com deficiência apontam a infraestrutura de mobilidade (semáforos, calçadas e pontos de ônibus) como um dos mais importantes temas a serem resolvidos. Dessas três pesquisas (pedestres, mobilidade e pessoas com deficiência), percebemos que a calçada é um tema prioritário na cidade, que tem a ver com o direito de ir vir e o acesso às oportunidades de trabalho, à cultura, ao comércio.

 

As pesquisas também revelam que nossa cidade não respeita as mulheres: mais da metade já sofreu algum tipo de assédio (sendo que 38% sofreram assédio no transporte coletivo) e 24% delas afirmaram ter enfrentado algum tipo de preconceito de gênero no mercado de trabalho.

São Paulo também é racista: 70% dos entrevistados afirmam que o preconceito contra a população negra se manteve igual ou aumentou nos últimos dez anos na cidade. 

Também cresce a intolerância quanto à diversidade sexual, já que 4 em cada 10 entrevistados sofreram ou presenciaram alguma situação de preconceito em função da orientação sexual ou identidade de gênero nos espaços e também no transporte públicos.

Salta aos olhos a necessidade de trabalharmos a cultura da diversidade para que as pessoas entendam que ela é uma riqueza de nossa sociedade e, por outro lado, sermos rigoroso na defesa do direito de todos.

Sabemos que morrem em São Paulo 4.700 pessoas por ano (13 a cada dia) devido a problemas respiratórios (dados do Instituto Saúde e Sustentabilidade) e que a saúde é, há anos, apontada como o maior problema para os cidadãos que vivem na cidade.

O sistema público de saúde está sobrecarregado por um problema que poderia ser resolvido com o uso de motores mais modernos que eliminassem ou reduzissem a emissão de partículas finas do diesel, tecnologia existente e aplicada em muitas cidades do mundo. No Brasil, será a ação do poder público local que mudará o padrão do transporte coletivo.

A mobilidade na cidade é sempre um tema chave e uma das pesquisas mais repercutidas da nossa série. A edição de 2019 mostrou que, apesar de ter diminuído, o tempo médio gasto pelos paulistanos diariamente no trânsito é de 2h25. E, certamente um dos resultados mais assustadores: 71% dos usuários de ônibus deixam de visitar amigos ou familiares, realizar consultas médicas, participar de atividades de lazer, frequentar aulas e até procurar emprego sempre ou às vezes por conta do alto custo da tarifa.

Na temática de trabalho e renda, a pesquisa revelou que, para cerca de 4 em cada 10 paulistanos, a alimentação é o item que mais impacta o orçamento doméstico, seguido por aluguel/moradia. Quando o assunto é segurança, a edição inédita da pesquisa apontou que 76% dos paulistanos consideram o bairro em que moram pouco ou nada seguro. E que 47% evitam sair a pé à noite por medo da violência.

Políticas que estimulem a descentralização de oferta de empregos teriam impacto na melhoria da mobilidade, na redução do enorme tempo despendido no trânsito e à menor exposição à poluição, reduzindo problemas de saúde. A integração dos dados revelados nas pesquisas pode ser poderoso instrumento para a definição de políticas públicas, do orçamento e das prioridades de investimentos.

Em janeiro de 2019, 63% disseram que deixariam São Paulo se tivessem condições. Em 22 de janeiro será lançada a próxima pesquisa e poderemos ver se, no decorrer do ano, a capital paulista tornou-se mais ou menos atraente para as pessoas que nela vivem.

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