José Henrique Mariante

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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Consciências da Folha

País acorda para crise climática, chance que o jornal não pode deixar passar

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A Folha atualizou na última semana o verbete "Bandeira Nacional", listado à página 89 do Manual da Redação. O novo título é "Bandeira Nacional e Símbolos da Consciência Negra e do Orgulho Gay". O texto, que cita a praxe do jornal de ornar os cabeçalhos da Primeira Página e da Home no 7/9 e no 15/11 com uma reprodução estilizada da bandeira, oficializa agora a presença em igual destaque dos símbolos das datas acrescidas, 20/11 e 28/6. Leitores atentos sabem que isso já era costume do jornal há alguns anos, mas não é pouca coisa torná-lo uma de suas normas escritas.

Sem prejuízo a qualquer ressalva ou crítica que se faça necessária, é inegável que este jornal encampou um projeto de diversidade raro na mídia nacional. Seu organograma, sua equipe e sua pauta foram modificados para responder a demandas que constatou em seu público e na sociedade. Talvez a Redação continue longe de espelhar a diversidade do país, mas nunca um jornal de grande porte publicou tanto sobre quilombos e quilombolas, para ficar apenas em um exemplo de iniciativa.

Jornada não sem sobressaltos, com uma séria crise interna tornada pública, sucessos e insucessos, lenta demais para uns, atabalhoada para outros, mas, mais importante, já muito além do que poderia ser descrito como ponto de não retorno. A Folha mudou e é isso.

O jornal não decidiu tanta coisa de uma hora para outra. Como qualquer empresa, é muito provável que tenha olhado para a paisagem, achado necessário mudar, mas também relutado e recuado. Pode soar pragmático, mas circunstâncias fazem diferença.

Neste momento, por exemplo, uma delas se apresenta de forma mais do que eloquente. Na última sexta-feira (17), o noticiário era uma tragédia em atos: incêndios no Pantanal, seca na Amazônia, enchentes em Santa Catarina, calor senegalesco em boa parte do país e a expectativa de novos estragos insuflada pela previsão de mais vendavais, tempestades, granizo e o que mais cair do céu. A crise climática cansou de se insinuar, grita agora.

Um termômetro em cujo bulbo, na parte inferior, está alojada uma bomba com um pavio aceso. O fundo é branco.
Folhapress

Este é o necessário próximo passo da Folha, tornar a cobertura de ambiente, na qual já sobressai, a cobertura de todo o jornal, transversal, abrangente, completa. Não há nada mais importante, e a fase de olhar para a paisagem já se esgotou, parece evidente. Organograma, equipe, pauta, a receita básica não é diferente; encarar as próprias emissões e rever práticas e sistemas internos talvez sejam. Todos faremos isso, não há alternativa.

Pequeno polegar

A discussão sobre comentários se amplia. Leitores contribuem com críticas e sugestões.

A mais curiosa prega o fim do "polegar para cima, polegar para baixo", o "joinha", que emula o like das redes sociais no sistema da Folha. Mas por que seu fim? É "um convite explícito à inarticulação e à reação de rebanho. Por que esperar uma reação sofisticada quando o convite do site é a uma reação de turba? Para que publicar o número das pessoas que anonimamente ‘concordaram’ com um comentário ou com um palavrão escrito em código? Se alguém concorda ou não concorda, que escreva uma resposta apoiando ou refutando o que foi dito. Simples assim. Esse polegar é fascista. Era em Roma, continua sendo agora", escreve o leitor.

Na mesma linha de evitar o efeito vitrine, um exemplo é a seção do jornal The New York Times. Comentários não aparecem no pé das reportagens, apenas um botão, que traz o número de interações. Para lê-las, é preciso clicar e abrir outra janela. Só entra na discussão quem realmente deseja.

Outra ferramenta do jornal americano é demanda de leitora por aqui. Que o site avise o resultado das moderações, evitando deixar quem postou no escuro. No Times, é possível optar por uma resposta por email, que pode ser inclusive de um jornalista. "Essa é uma ideia interessante. Pela nossa experiência, quando estabelecemos contato direto, a resposta dos leitores em geral é muito positiva", diz Rebeca Oliveira, da editoria de Interação.

O sistema facilitaria a comunicação entre autores e seu público. Hoje em dia, apenas alguns colunistas usam o próprio sistema de comentários para responder a seus leitores na Folha. Muitos se mantêm afastados do tiroteio, que não é exclusividade nossa.

O britânico The Guardian, há alguns anos, gerou polêmica ao limitar o número de textos abertos a comentários. Nos artigos de opinião, por exemplo, os assinantes só podem deixar comentários elegíveis para a coluna de cartas, outro modo de inibir a reação de turba, como descrita pelo leitor.

"Acho produtivo ter instâncias diferentes de comentários", afirma Rebeca, citando como exemplo o grupo de WhatsApp do projeto Todas, que reúne 120 leitoras em diálogo direto com a Folha. "Há termos de uso, mas até aqui não foi preciso acioná-los. Funciona incrivelmente bem."

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