A Folha atualizou na última semana o verbete "Bandeira Nacional", listado à página 89 do Manual da Redação. O novo título é "Bandeira Nacional e Símbolos da Consciência Negra e do Orgulho Gay". O texto, que cita a praxe do jornal de ornar os cabeçalhos da Primeira Página e da Home no 7/9 e no 15/11 com uma reprodução estilizada da bandeira, oficializa agora a presença em igual destaque dos símbolos das datas acrescidas, 20/11 e 28/6. Leitores atentos sabem que isso já era costume do jornal há alguns anos, mas não é pouca coisa torná-lo uma de suas normas escritas.
Sem prejuízo a qualquer ressalva ou crítica que se faça necessária, é inegável que este jornal encampou um projeto de diversidade raro na mídia nacional. Seu organograma, sua equipe e sua pauta foram modificados para responder a demandas que constatou em seu público e na sociedade. Talvez a Redação continue longe de espelhar a diversidade do país, mas nunca um jornal de grande porte publicou tanto sobre quilombos e quilombolas, para ficar apenas em um exemplo de iniciativa.
Jornada não sem sobressaltos, com uma séria crise interna tornada pública, sucessos e insucessos, lenta demais para uns, atabalhoada para outros, mas, mais importante, já muito além do que poderia ser descrito como ponto de não retorno. A Folha mudou e é isso.
O jornal não decidiu tanta coisa de uma hora para outra. Como qualquer empresa, é muito provável que tenha olhado para a paisagem, achado necessário mudar, mas também relutado e recuado. Pode soar pragmático, mas circunstâncias fazem diferença.
Neste momento, por exemplo, uma delas se apresenta de forma mais do que eloquente. Na última sexta-feira (17), o noticiário era uma tragédia em atos: incêndios no Pantanal, seca na Amazônia, enchentes em Santa Catarina, calor senegalesco em boa parte do país e a expectativa de novos estragos insuflada pela previsão de mais vendavais, tempestades, granizo e o que mais cair do céu. A crise climática cansou de se insinuar, grita agora.
Este é o necessário próximo passo da Folha, tornar a cobertura de ambiente, na qual já se sobressai, a cobertura de todo o jornal, transversal, abrangente, completa. Não há nada mais importante, e a fase de olhar para a paisagem já se esgotou, parece evidente. Organograma, equipe, pauta, a receita básica não é diferente; encarar as próprias emissões e rever práticas e sistemas internos talvez sejam. Todos faremos isso, não há alternativa.
Pequeno polegar
A discussão sobre comentários se amplia. Leitores contribuem com críticas e sugestões.
A mais curiosa prega o fim do "polegar para cima, polegar para baixo", o "joinha", que emula o like das redes sociais no sistema da Folha. Mas por que seu fim? É "um convite explícito à inarticulação e à reação de rebanho. Por que esperar uma reação sofisticada quando o convite do site é a uma reação de turba? Para que publicar o número das pessoas que anonimamente ‘concordaram’ com um comentário ou com um palavrão escrito em código? Se alguém concorda ou não concorda, que escreva uma resposta apoiando ou refutando o que foi dito. Simples assim. Esse polegar é fascista. Era em Roma, continua sendo agora", escreve o leitor.
Na mesma linha de evitar o efeito vitrine, um exemplo é a seção do jornal The New York Times. Comentários não aparecem no pé das reportagens, apenas um botão, que traz o número de interações. Para lê-las, é preciso clicar e abrir outra janela. Só entra na discussão quem realmente deseja.
Outra ferramenta do jornal americano é demanda de leitora por aqui. Que o site avise o resultado das moderações, evitando deixar quem postou no escuro. No Times, é possível optar por uma resposta por email, que pode ser inclusive de um jornalista. "Essa é uma ideia interessante. Pela nossa experiência, quando estabelecemos contato direto, a resposta dos leitores em geral é muito positiva", diz Rebeca Oliveira, da editoria de Interação.
O sistema facilitaria a comunicação entre autores e seu público. Hoje em dia, apenas alguns colunistas usam o próprio sistema de comentários para responder a seus leitores na Folha. Muitos se mantêm afastados do tiroteio, que não é exclusividade nossa.
O britânico The Guardian, há alguns anos, gerou polêmica ao limitar o número de textos abertos a comentários. Nos artigos de opinião, por exemplo, os assinantes só podem deixar comentários elegíveis para a coluna de cartas, outro modo de inibir a reação de turba, como descrita pelo leitor.
"Acho produtivo ter instâncias diferentes de comentários", afirma Rebeca, citando como exemplo o grupo de WhatsApp do projeto Todas, que reúne 120 leitoras em diálogo direto com a Folha. "Há termos de uso, mas até aqui não foi preciso acioná-los. Funciona incrivelmente bem."
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