Há uma frase de que gosto muito e que sempre me faz pensar, mesmo não lembrando mais onde a ouvi: "Para quem não sabe aonde quer chegar, todos os caminhos são errados". Mas há outra, essa eu sei que é de Luís de Camões, de que gosto ainda mais: "Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar".
Essas frases podem muito bem ser um aviso para todos aqueles brasileiros que hoje pensam em se mudar para Portugal com a mesma naturalidade com que, há duas gerações, seus pais emigraram para São Paulo.
Claro que migrações fazem parte da história da humanidade, e não dá para entender a história sem elas. Mas, hoje em dia, as pessoas parecem acreditar que mudar de país é tão fácil quanto mudar de canal na TV.
É verdade que imigrar está cada vez mais simples e ao alcance de um clique. Contudo, mesmo entre países irmãos, como Portugal e Brasil, mudar de casa sem planejamento é receita para o caos.
Mudar de país pode ser a maior aventura da vida e, como em qualquer empreitada, o planejamento é tudo. Sem um bom plano, até a construção mais bonita desmorona.
Então, antes de fazer as malas, siga estas dicas de quem sabe. Pesquise sobre Portugal: vire expert em cultura, história, geografia e costumes locais. Dê uma espiadinha nos requisitos de visto: embora a nova mobilidade entre países de língua portuguesa facilite a vida, nem tudo é sopa no mel.
Planeje sua carreira ou seus estudos: se pretende trabalhar ou estudar em Portugal, dê uma bisbilhotada nas oportunidades de emprego e instituições de ensino. Faça uma poupança e planeje seu orçamento, afinal, os pastéis de Belém e os bolinhos de bacalhau não vão se pagar sozinhos!
Fique de olho nos gastos: aluguel, transporte, alimentação e outras necessidades. Pesquise o custo de vida em Portugal para não passar aperto. Encontre acomodação: Lisboa é incrível, mas o resto do país não é apenas um fundo de tela e pode ser bem mais em conta.
Organize a logística, transporte de pertences, passagens aéreas, seguro de saúde e tudo mais. Leve passaporte, visto e diplomas. Estabeleça conexões: converse com pessoas que já moram lá, especialmente aquelas que conseguem traduzir Fernando Pessoa em Carlos Drummond de Andrade sem piscar.
E prepare-se emocionalmente: mudar de país, mesmo um que fale a mesma língua e tenha o mesmo coração, pode ser uma experiência desafiadora. Esteja preparado para enfrentar saudades de casa, dificuldades de adaptação e possíveis desafios culturais.
Traduza Drummond —às vezes, "no meio do caminho, tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra". Só assim você saberá que para bem viver Lisboa é crucial ouvir Pessoa: "Navegar é preciso! Viver não é preciso".
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