José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Descrição de chapéu União Europeia imigrantes

Sem imigrantes, Portugal não poderia financiar seu modelo social, diz ministro

José Luis Carneiro, chefe da pasta de Administração Interna, fala sobre novo programa para cidadãos lusófonos

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Cidadãos dos países da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa podem agora se beneficiar de um processo ágil que lhes permite morar em Portugal e acessar os mesmos direitos de um cidadão português em áreas como educação, saúde, segurança e trabalho.

Em apenas uma semana —de 13 a 21 de março—, autoridades portuguesas receberam 85,7 mil pedidos online, 90% feitos por brasileiros, para atribuição de residência de lusófonos.

O hoje ministro da Administração Interna de Portugal, José Luis Carneiro, durante visita ao Brasil, na cidade de São Paulo
O hoje ministro da Administração Interna de Portugal, José Luis Carneiro, durante visita ao Brasil, na cidade de São Paulo - Gabriel Cabral - 25.nov.16/Folhapress

De todos estes pedidos, Portugal já emitiu 74,7 mil documentos que conferem uma autorização automática de residência por um ano, renovando-se depois automaticamente por dois períodos de dois anos, o que coloca seus titulares em condições de requerer a nacionalidade.

O responsável por esta revolução, o ministro luso da Administração Interna, José Luis Carneiro, foi o convidado do Gente de Cá e de Lá na mesa do Cícero, onde concedeu entrevista a esta coluna da Folha.

José Luis, ex-presidente da Câmara do município de Baião, sede da fundação Eça de Queiroz, é um homem de trato fácil, sorriso franco, gostos simples e grande bagagem cultural. Antes de estar ministro, foi secretário de Estado das Comunidades, quando conheceu profundamente a diáspora lusa, uma das mais importantes do planeta.

Portugal precisa de pessoas. Esta nova gestão das fronteiras e do acolhimento fazem do país um destino para a imigração. Isso é uma oportunidade? A Europa enfrenta o seu mais importante desafio, o envelhecimento, e vivemos também circunstâncias internacionais que são alavancas de novos fluxos migratórios. Em especial os causados por conflitos militares e instabilidade civil, pelo efeito das alterações climáticas —nomeadamente o fenômeno africano da sahelização, onde a crescente desertificação de amplos territórios do continente provoca imigração em direção à Europa— e, depois, as circunstâncias que estamos vivendo no Oriente Médio e no Leste Europeu, com esta guerra que tem provocado um gigantesco fluxo migratório.

Isso exige muito da Europa e dos europeus. É nesse esforço que a Europa tem vindo a trabalhar, e Portugal tem contribuído. Por um lado, garantir que a fronteira comum externa da UE tenha um nível elevado de controle de segurança no combate ao tráfico de seres humanos e no apoio às pessoas vítimas das redes de imigração ilegal, ao mesmo tempo que também trabalhamos pela criação de mecanismos de integração, acolhimento e desenvolvimento.

Depois há os fluxos dos países da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, em que a mobilidade se faz porque queremos nos aproximar e de fato desenvolver e aprofundar um espaço e uma relação comum.

Quem está no Brasil pode ter a ideia que em Portugal as oportunidades existem apenas em Lisboa e no Porto, mas há muitos outros locais e muitas outras possibilidades? Há três questões fundamentais. A primeira tem a ver com as questões da segurança; de fato Portugal continua a figurar entre os seis países mais pacíficos do mundo, um indicador muito relevante. Fora dos centros urbanos, ainda há lugares onde as pessoas deixam ficar a chave na porta da casa.

A segunda dimensão prende-se ao nosso acesso à educação. Quando visitava portugueses nos EUA, eu verificava que as famílias pediam empréstimos para poderem colocar os filhos a estudar. O que lhes dizia é que, em Portugal, conseguiam aceder ao ensino superior, fazer a universidade e ainda comprar casa.

O terceiro fator é a saúde, que tem grande qualidade e acesso universal.

Mas não é só o que Portugal proporciona economicamente. Há de fato muito Portugal para descobrir, muitas oportunidades nos territórios na transição entre o litoral e o interior, muitos onde as autarquias têm políticas ativas para atrair cidadãos nomeadamente dos países da CPLP e, muito particularmente, do Brasil. Oportunidades nos setores do agro, na indústria tradicional e na inovação.

Um país cheio de oportunidades. Entre 2015 e 2021, Portugal tinha mais de € 25 bilhões (R$ 141,9 bilhões) em ações de investimento direto estrangeiro. Isso é a demonstração de que efetivamente somos vistos como uma terra de oportunidades e confiança para quem decide investir.

Cidadãos dos países da CPLP, incluindo o Brasil, têm um novo mecanismo de autorização e residência. Morar em Portugal já é possível sem ter de comprar uma casa de € 500 mil (R$ 2,84 milhões) ou ter um emprego antes de chegar? A partir de agora, em todos os países membros da CPLP, os cidadãos que querem vir para Portugal devem ir aos postos consulares dos seus países e apresentarem o seu pedido. É feita a verificação de segurança em bases de dados nacionais e internacionais e, se tudo estiver conforme, o visto é emitido.

Esta medida faz com que Portugal lidere uma era de acolhimento que vai transformar a sociedade portuguesa. Acha que isto é realmente uma questão transformadora ou é só uma resposta a uma necessidade? Como é reconhecido pela UE e pela ONU, a alteração da nossa arquitetura de imigração contribui para o fortalecimento do tecido econômico e para o financiamento das próprias funções sociais do Estado. Sem eles, a manter-se a tendência demográfica nas próximas décadas, a UE não poderia continuar a financiar o seu modelo social.

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