José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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É preciso ver Brasil além do todo e entender melhor cada estado, diz embaixador português

Para Luis Faro Ramos, identidades subnacionais ajudam a compreender país onde ainda diz se sentir um principiante

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Em entrevista à coluna, por ocasião da primeira cúpula Portugal-Brasil em sete anos, o embaixador luso em Brasília compartilha suas aventuras pelo país do samba e do futebol. Já cumpriu duas temporadas intensas, incluindo uma pandemia e o retorno de Lula ao poder, e ressalta que, mesmo após quase três anos morando no Brasil, continua sendo um "principiante" na arte de desvendá-lo.

Luis Faro Ramos celebra as câmaras de comércio portuguesas no Brasil e afirma que cultura é o ingrediente secreto na mistura de povos e países, enfatizando a importância de apresentar o Portugal do século 21 aos brasileiros, com um toque de modernidade e tradição. Na mesma mesa do restaurante Cícero, em Lisboa, onde em novembro a cúpula começou a ser preparada, ainda antes da posse de Lula 3, Faro Ramos faz um balanço da nova atmosfera que respiram em conjunto portugueses e brasileiros.

O embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro Ramos, em Brasília
O embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro Ramos, em Brasília - Isac Nóbrega - 7.jan.21/Presidência/Divulgação

Ao completar três anos como embaixador de Portugal no Brasil, percebeu uma transformação significativa no país? Como avalia o que aconteceu e o que pode acontecer no futuro? Já visitei 17 estados e pude constatar que as realidades são bastante distintas. Posso dizer que vivi dois anos bastante intensos, parte deles marcados pela pandemia. No ano passado, celebramos os 200 anos da Independência do Brasil e participamos de diversas comemorações em conjunto. Já o final de 2022 foi especialmente marcante, com as eleições e a posse do presidente Lula, que representaram uma nova era para o Brasil. A relação entre os países é tão intensa que há sempre muito a ser feito, mas pelas melhores razões.

Em Portugal, costuma-se dizer que o Brasil não é para principiantes. O que seria importante para os portugueses que vivem e convivem com os brasileiros aqui em Portugal saberem sobre o Brasil? Essa frase é bastante correta. Mesmo depois de morar no Brasil por alguns anos e lidar com a realidade brasileira todos os dias, ainda considero-me um principiante. Aprender sobre o Brasil é complexo, especialmente em termos políticos. A política é muito diferente da praticada na Europa, e a dimensão continental do país, com 27 estados, cada um com grande autonomia em diversas áreas, torna a compreensão ainda mais difícil. Se pudesse dar um conselho, diria que é preciso olhar para o Brasil não só como um todo, mas também entender suas identidades subnacionais, ou seja, compreender os resultados eleitorais nas prefeituras e a sociedade civil em cada estado.

O senhor acredita que os estados brasileiros estão se dando a conhecer e se tornando mais visíveis nas decisões nacionais? Uma das estruturas que temos no Brasil são as câmaras de comércio portuguesas, que já estão presentes em 19 dos 27 estados do país. Desde que cheguei, tenho apoiado essa estrutura muito útil em nossas visitas aos estados. Esse trabalho conjunto tem resultado em iniciativas como missões empresariais de governos e outras iniciativas com a colaboração da nossa AIcep [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal], que faz muito pela visibilidade de Portugal no Brasil.

Qual é a sua avaliação da cúpula entre Portugal e Brasil e o que podemos esperar daqui para frente? A cúpula foi um grande sucesso, tanto na parte institucional quanto na econômica. Foram assinados 13 acordos e uma declaração conjunta muito importante para a relação entre os dois países. O fórum econômico em Matosinhos foi um momento de grande interação entre empresas dos dois países. Tenho certeza de que haverá vários convites para empresários nos próximos meses. A parceria entre a Embraer e as entidades portuguesas com o KC-390 e o Super Tucano é um exemplo de como estamos começando a criar uma atmosfera de confiança mútua e de vontade de fazer juntos.

O Chega [partido de ultradireita em Portugal] protestou de forma inédita quando o presidente Lula discursou na Assembleia da República. Existe um risco de extremismo de direita em Portugal? Foram duas intervenções brilhantes. Dos presidentes da Assembleia e do presidente do Brasil, além de uma grande e carinhosa recepção. Em Portugal, valoriza-se a democracia e a aceitação de opiniões diferentes, mas a esmagadora maioria recebeu com carinho a visita do presidente brasileiro. As imagens e a repercussão mostraram a força dessa relação, sem vergonha ou constrangimentos.

Qual o papel da cultura no atual momento em que já temos centenas de milhares de brasileiros em Portugal e há a previsão de que venham mais, o que pode causar diferenças e até problemas? A cultura é crucial nesse processo. A cultura brasileira já faz parte do dia a dia dos portugueses há muito tempo, por meio da música e de novelas, por exemplo. A crescente presença de brasileiros em Portugal é bem-vinda, e o país tem orientações para facilitar essa vinda. Essa mudança vai impactar a cultura em Portugal e é importante que aqueles que estão aqui levem para o Brasil o que é Portugal no século 21. A ideia de Portugal nos últimos anos pode ter sido um pouco equivocada e é importante atualizá-la.

Sente que no Brasil há vontade de saber mais sobre Portugal? Nós, na parte consular, recebemos todos os dias pedidos de informações sobre vistos, nacionalidades, residências e busca de trabalho, e todas as pessoas que nos procuram não se limitam a esses assuntos, mas também perguntam como é o país, as diferenças entre o Norte e o Sul, questões relacionadas a educação, saúde, língua e outras áreas. Portanto, há uma curiosidade positiva em antecipar um pouco do que será a sua permanência em Portugal.

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