José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Apoio à Rússia contra os EUA é irresistível ao velho sindicalista que mora em Lula

Brasil, de volta à cena internacional, deixa claro que irá vestir a roupa que melhor serve aos seus interesses

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Lula foi à China, falou da Ucrânia e da Rússia. Não condenou abertamente Putin como a Europa esperaria e promete agora trazer a polêmica para a visita à Península Ibérica. Portugal, onde vive a segunda maior comunidade brasileira no exterior, espera-o de braços abertos, mas desta vez já não escancarados.

No momento em que a extrema direita de Portugal promete uma "peixeirada" —"esculhambação", em português de Portugal— na cerimônia de boas-vindas que o Parlamento dedica ao presidente do Brasil no Dia da Liberdade, as declarações de Lula sobre a guerra na Europa vêm colocar desconforto em uma relação que nunca foi tão promissora.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial dos 100 dias de governo, no Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 10.abr.23/Folhapress

Para tristeza dos incondicionais, de um lado e de outro, em uma coisa Lula e Bolsonaro convergem: na falta de condenação à Rússia e a Putin. É verdade que "as nações não têm amigos, só interesses" e que a necessidade opera milagres. Mas será que os fertilizantes, de que o Brasil tanto depende, explicam tudo?

Juntos, soja, milho, cana e algodão consomem 90% dos fertilizantes usados no Brasil, e essas estão entre as principais commodities exportadas, imprescindíveis ao orçamento (e ao caixa) do Brasil.

Devido a essas importações que o Brasil recentemente desistiu de produzir —a Petrobras chegou a ser a maior produtora mundial de nitrogenados, mas, em 2018, retirou-se do setor para se concentrar na área mais lucrativa do petróleo e gás—, a dependência do exterior é quase total. E o Brasil depende de Putin e de seus "amigos" (China e Belarus) em cerca de 40% das suas necessidades.

A balança comercial entre os dois países é muito desequilibrada, e isso não é favorável ao Brasil. Moscou é o sexto fornecedor de Brasília (US$ 7,9 milhões) —em razão dos fertilizantes; mas o Brasil pouco exporta para lá. A Rússia é apenas o 33º colocado (US$ 1,9 milhão), ao lado de países como Argélia e Israel, muito atrás de nações bem menores, como por exemplo Portugal, que com US$ 4,3 milhões ocupa o 17º lugar.

Com Lula 3, a esperança dos europeus em finalmente pô-lo em funcionamento recrudesceu. Mas esta virada pró-Kremlin de Lula coloca as esperanças em perigo, mesmo quando os mais otimistas dizem que poderia ser moeda de troca para melhorar esse acordo.

A matriz ideológica do PT, apoiar a Rússia contra os Estados Unidos —aqui a Europa pega de tabela—, faz parte da história romântica da política do século 20 e, quem sabe, talvez seja irresistível ao velho sindicalista que ainda mora dentro da terceira encarnação presidencial de Lula.

Hoje, o Brasil, sonoramente de volta à cena internacional, deixa claro que irá vestir a roupa que melhor serve aos seus interesses de potência global, independentemente de amizades ou ideologias.

Na verdade, o mundo romântico e maniqueísta, em que todos os opositores a Bolsonaro se juntaram para apoiar o regresso de Lula como a única possibilidade da democracia e salvação do mundo, não existe mais. Na verdade, ele nunca existiu.

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