José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Lula deveria usar teimosia da Europa em seu favor no acordo Mercosul-UE

Após transformação das relações entre Portugal e Brasil, fechar o pacto é hoje mais interessante do que alguma vez foi

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É fácil fazer uma lista das trágicas teimosias europeias, crônicas e recorrentes, e é importante reconhecê-las quando se negocia com o Velho Continente. Desde a Guerra dos 100 anos, passando pela Inquisição e acabando na incapacidade em aprovar medidas para combater a crise climática, elas estão sempre lá.

E, na Primeira Guerra Mundial, no apaziguamento britânico, nas intolerâncias migratórias, nas dívidas soberanas, nos tíbios orçamentos da UE, nas políticas de austeridade e, mais recentemente, no brexit.

Lula durante transmissão ao vivo realizada em frente às Cataratas do Iguaçu
Lula durante transmissão ao vivo realizada em frente às Cataratas do Iguaçu - Ricardo Stuckert - 4.jul.23/Presidência da República/Divulgação

Assim, fazendo jus à história e sendo previsíveis, os europeus preparam-se para destruir a única possibilidade real que têm de voltar a ser uma potência global, criando dificuldades desnecessárias à conclusão do acordo com o Mercosul. Mas esta oportunidade histórica, de colocar em funcionamento o primeiro acordo global que deixaria Norte e Sul em pé de igualdade —criando um bloco econômico e social coeso, baseado em valores humanistas e democráticos, capaz de contrariar a hegemonia de americanos e chineses—, parece esfumar-se pela mesma razão do costume. A matriz teimosa dos europeus.

Por isso a fala de Lula na cúpula do Mercosul, afirmando não ter interesse em acordos que condenem (o Brasil) ao "eterno papel de exportadores de matérias-primas, minérios e petróleo", revela alguma inocência.

Considerando inaceitável que parceiros estratégicos negociem com base em desconfiança e ameaça de sanções, ele agita uma certa ideia de passado colonialista contrária ao interesse do Brasil hoje, que é fechar o acordo. Quando uma parte da elite política e empresarial brasileira escolhe Portugal como uma segunda casa, tomando posições de relevo na hierarquia social local, comprando negócios estratégicos do país luso, como cimento e siderurgia, o fechamento do acordo deixaria o Brasil com um pé na Europa.

Lula precisaria lembrar que, numa negociação com o Velho Continente, os europeus são sempre teimosos, mas que normalmente essa teimosia se vira contra eles. Na verdade, devido à transformação histórica das relações entre Portugal e Brasil, que vai acelerando na mesma proporção do número de brasileiros com poder de decisão em terras lusas, fechar o acordo é hoje mais interessante do que alguma vez foi.

Além disso, Portugal e, por meio dele, a Europa são a melhor chance para que as economias do Mercosul deixem de ser esses eternos exportadores de commodities cujos preços são controlados pelos grandes consumidores mundiais. Ou será que Lula acredita que americanos e chineses estão mesmo interessados que as exportações brasileiras passem a ter mais valor acrescentado?

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