José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Rodrigo Pacheco e o Abingate

Decisão do presidente do Senado de solicitar lista de parlamentares supostamente monitorados é exemplo de zelo pela democracia

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"Em um mundo ideal, as agências de inteligência serviriam apenas para proteger a nação contra ameaças externas. Mas, na realidade intrincada em que vivemos, elas desempenham um papel muito mais complexo." Esta frase, que escrevi em meu livro, "As Grandes Agências Secretas" a propósito da generalidade das tentações dos políticos, reflete a natureza ambígua dessas agências.

Por um lado, elas são essenciais para a segurança nacional e para o combate a ameaças como o terrorismo e a espionagem estrangeira. Por outro —como parece agora acontecer—, existe sempre o risco de que sejam usadas para fins políticos internos, minando as liberdades individuais e a própria democracia que pretendem defender.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante votação no plenário, em novembro de 2023 - Pedro Ladeira - 22.nov.23/Folhapress

Diante do recente escândalo do monitoramento clandestino de parlamentares pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), importa refletir como os diversos Poderes (e políticos) se posicionam relativamente a este gravíssimo problema e o que isso significa no xadrez político.

O papel do Congresso, como órgão democrático de representação do povo, é central neste cenário, e a iniciativa do seu presidente, Rodrigo Pacheco, reflete não apenas uma necessidade de proteção dos direitos dos parlamentares, mas também uma defesa mais ampla do Estado de Direito.

Vejamos. O monitoramento sem controle de autoridades eleitas, se comprovado, no contexto da "Operação Vigilância Aproximada", representa uma perigosa ferramenta nas mãos do Executivo, capaz de desequilibrar a relação entre os Poderes e prejudicar a liberdade de ação e expressão dos representantes do povo.

O envolvimento do Supremo, por sua vez, é um lembrete da importância do Judiciário como guardião das leis e dos direitos individuais. A solicitação feita por Pacheco ao STF não é apenas um pedido de informações, mas também uma busca por legitimidade e justiça, com a qual a derradeira instância da lei tem o dever de reafirmar sua posição como baluarte contra abusos de poder, recusando qualquer tibieza.

A decisão de Pacheco de solicitar a lista de parlamentares supostamente monitorados pela Abin é um claro exemplo de seu zelo pela democracia. Além de buscar esclarecimentos sobre uma potencial violação de direitos, ele reforça a importância do equilíbrio e da fiscalização entre os Poderes.

E o papel dele ressoa particularmente forte dado o contexto de seu mandato. Sem a possibilidade de reeleição, suas ações são despidas de interesses políticos imediatos, o que lhes confere uma autenticidade e peso maior.

A decisão de enfrentar pessoalmente o "Abingate" é um exemplo claro de como as ações individuais de um político ainda podem conformar uma pose de estadista da qual as democracias nunca deveriam prescindir, apesar do ruidoso e confuso xadrez político brasileiro dos tempos modernos.

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