José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Quatro anos depois, coração volta a se dilacerar ante possível final entre Brasil e Portugal

Português é a única língua duplamente representada nas quartas de final; são maiores as chances de os times se encontrarem

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Há quatro anos eu escrevia, aqui na Folha, de olhos fixos em Moscou, que se Portugal e Brasil se encontrassem na final da Copa, não sabia se meu coração iria aguentar. Hoje, com os olhos postos em Doha, me inquieto ainda mais.

Quando escrevi, Portugal ganhou de Marrocos, com quem agora vai disputar as quartas, e o Brasil bateu por 2 a 0 a Costa Rica, que fez as malas e foi embora. Neymar e Cristiano Ronaldo eram as estrelas mais brilhantes do firmamento galáctico do futebol na língua de Camões.

A seleção lusa era campeã da Europa e Cristiano Ronaldo estava no seu apogeu, mas na Copa russa Portugal haveria de tombar cedo —às mãos da alviceleste uruguaia logo nas oitavas— e o Brasil uma rodada adiante, nas quartas, hipnotizado pela melhor Bélgica que o futebol já viu. Meu desejo virou pó.

O atacante Gonçalo Ramos, de Portugal, festeja gol na goleada sobre a Suíça pelas oitavas de final da Copa, em Lusail - Han Yan - 6.dez.22/Xinhua

Esse último jogo do Brasil na Copa de 2018, em Kazan a 6 de julho, fechava a participação das seleções de língua portuguesa na competição da Fifa no país de Vladimir Putin. Era uma data importante, que prometia não ser esquecida.

Três meses antes, a 7 de abril, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se entregava à Polícia Federal no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, para cumprir uma pena de 12 anos e 1 mês —que haveria de durar "apenas" 580 dias e terminar a 8 de novembro de 2019. Lula assistiu à última Copa na cadeia, tenho a certeza que ele se lembra disso.

E exatamente dois meses depois daquela data triste, a 6 de setembro, Jair Bolsonaro (PL) se encontraria com o gume da lâmina de Adélio Bispo de Oliveira —e o gesto ocasional o haveria de levar ao Planalto, carregado em ombros pela insensatez da exaustiva cobertura midiática que acabou com as chances de Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) de derrotarem o messiânico capitão.

Hoje, apenas uma Copa depois, a Rússia é o pária internacional que mergulhou a Europa na guerra, ameaçando transformar, pela primeira vez na história, o Velho Continente num bloco secundário.

O mundo viveu uma pandemia online que mudou para sempre os hábitos de trabalho e os mecanismos de construção de confiança entre as pessoas, dando novo sentido a conceitos antigos e criando outros —como nômades digitais ou migrantes globais.

No Brasil, a Presidência de Bolsonaro partia o país ao meio e a história de Lula da Silva —melhor que qualquer roteiro de Hollywood, fazendo jus ao mais fantástico hiper-realismo da literatura marquesiana— provava, a todos quantos ainda duvidavam, aquela verdade inquestionável: no Brasil até o passado é incerto.

Mas, hoje, o português é a única língua duplamente representada nas quartas de final. E por isso são maiores as chances de nossos times se encontrarem na final. Se isso acontecer vamos, de novo, ficar de coração dilacerado.

Sem saber como torcer, sem saber quem aplaudir, sem saber quem apoiar. Porque vocês também adoram o Gonçalo Ramos, mas nós também amamos o Richarlison. Como eu disse antes: final Brasil x Portugal? Seria bom, muito bom. Mas ia ser uma merda.

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