PF faz busca contra Ramagem e mira policiais federais em caso de software espião

Segunda fase da operação Última Milha avança sobre integrantes de setor criado na Abin sob Bolsonaro

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Brasília

Sob autorização do ministro Alexandre de Moraes (STF), a Polícia Federal cumpre na manhã desta quinta-feira (25) mandados de busca e apreensão e de suspensão de exercício de funções públicas de policiais federais envolvidos no uso do software espião FirstMile pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Os mandados são cumpridos em Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro (RJ). Um dos alvos de busca é Alexandre Ramagem, chefe da Abin no governo de Jair Bolsonaro (PL), atual deputado federal e pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Foram cumpridos mandados de busca em sua residência e no gabinete na Câmara. O deputado e a sua defesa ainda não se manifestaram sobre a operação.

Homem de terno e gravata discursa em frente a um microfone
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) durante sessão na Câmara dos Deputados - Zeca Ribeiro - 21.nov.2023/Câmara dos Deputados

Ao todo, sete policiais são alvos da ação, batizada de Vigilância Aproximada e que investiga, segundo a PF, uma "organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial."

A operação é uma continuação da operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023.

PF faz busca e apreensão em gabinete do deputado Alexandre Ramagem na Câmara dos Deputados
PF faz busca e apreensão em gabinete do deputado Alexandre Ramagem na Câmara dos Deputados - Gabriela Biló/Folhapress

Como mostrou a Folha, Ramagem é investigado porque os monitoramentos ilegais ocorreram durante sua gestão e por supostamente ter se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião durante sua gestão.

O ex-diretor da Abin teria sido corrompido por dois oficiais da Abin que ameaçaram divulgar o uso do software espião após a agência cogitar demiti-los em um processo administrativo interno por participação em uma fraude licitatória do Exército.

Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que "o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal".

Documentos em posse da Polícia Federal na operação Última Milha revelados pela Folha indicam que funcionários da Abin lotados no CIN (Centro de Inteligência Nacional) utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro.

O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por Ramagem.

A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar "atividades de inteligência" destinadas "ao enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado" e assessorar órgãos competentes sobre "atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosa".

Foram colocados em cargos de chefia na nova estrutura servidores da agência e policiais federais próximos a Ramagem e da família Bolsonaro, o que fez com que o CIN fosse apelidado de Abin paralela.

Além de Ramagem, a Folha apurou que os agentes da PF Marcelo Araújo Bormevet e Felipe Arlotta Freitas são alvos das medidas. Eles eram próximos da família Bolsonaro e atuaram na Abin durante a gestão Ramagem.

Outro alvo foi o delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, braço direito de Ramagem e responsável por chefiar o CIN por um período.

O centro foi desmontado pela reestruturação promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação da PF que mirou o software espião.

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