José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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José Manuel Diogo
Descrição de chapéu Portugal

Morte de António dos Ramos nos convida a refletir sobre relações Brasil-Portugal

Presidente da Casa de Portugal, em São Paulo, por mais de 30 anos, ele dedicou à instituição a parte mais sonora da sua vida

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Nesta semana, poderíamos celebrar a inédita medalha da ginástica olímpica brasileira em Paris, deplorar o já costumeiro e sempre escandaloso roubo democrático na Venezuela ou até mesmo comentar a histórica privatização da Sabesp em São Paulo. Mas todos esses importantes acontecimentos serão relegados a um segundo plano.

Hoje, esta coluna precisa celebrar uma vida extraordinária que sempre se expressou em português. Aos 82 anos, o comendador António dos Ramos, que se enamorou do Brasil nos anos 1950 e foi por mais de meio século um dos representantes da presença portuguesa em São Paulo, partiu.

O menino António —acento agudo, não circunflexo— nasceu em Portugal, numa pequena aldeia chamada Vilarelho da Raia, a apenas 200 metros da fronteira com a Espanha. Esse topônimo, "Raia", já indicava para o futuro comendador uma condição de passagem, de transição, que o havia de acompanhar por toda a vida.

Assistindo à queda de ditaduras e ao surgimento de democracias, Ramos, como muitos outros, fez parte da onda de mobilidade que importou quase 250 mil "portugas" para o Brasil na metade do século 20.

Esse movimento foi tão significativo como hoje é a imigração de brasileiros para Portugal, com milhares buscando uma nova vida no país irmão. E, além de contribuir para o enriquecimento cultural e social das duas nações, ele foi durante décadas o principal definidor do estereótipo do imigrante português que o momento presente vem transformando.

Em terras brasileiras, António dos Ramos foi presidente da Casa de Portugal em São Paulo por mais de três décadas, e dedicou à instituição quase centenária, situada em um austero e majestoso edifício de granito na avenida da Liberdade, a parte mais sonora da sua vida.

Como o próprio edifício, Ramos também era um símbolo importante da presença portuguesa no Brasil— ele personificava o passado, o presente e o futuro das relações entre os dois país. Seu desaparecimento, no último dia 26 de julho, não é uma simples notícia, mas um marco histórico que convida à reflexão.

fachada de prédio histórico
Fachada da Casa de Portugal, localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo - Raphael Igor - 2.set.12/Wikimedia Commons

Escrever sobre António dos Ramos na minha coluna aqui na Folha é uma maneira singela, mas necessária, de homenagear um homem que dedicou sua vida a fortalecer os laços entre Portugal e Brasil e, no fundo, a prestigiar aqueles que ao longo do tempo contribuíram e contribuem para a construção de uma identidade partilhada que a nossa língua comum desenha.

A trajetória de Ramos é um exemplo inspirador para todos nós, de um lado e de outro do oceano, que hoje buscam entender e valorizar nossa história e cultura, em uma nova era onde a língua que nos une é muito mais do que um mero instrumento de comunicação, mas uma verdadeira cidadania comum.

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