Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Josimar Melo

Notas madrilenhas

Do evento ao hotel by Cristiano Ronaldo, passando pela dobradinha local

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

De volta ao circuito internacional, onde as coisas voltam a acontecer (e nos deixam entrar), em março foi a vez de visitar a capital espanhola para participar do evento Madrid Fusión.

Foi uma verdadeira celebração de final de pandemia (que esperamos se confirme!). Grandes eventos de gastronomia se tornaram frequentes nos últimos vinte anos, e tanto ganhavam importância quanto se tornavam pretextos incontornáveis para viagens de profissionais e gourmets. A Espanha, nova meca da gastronomia, sediava ao menos dois deles: o Gastronomika, em San Sebastian, e o Madrid Fusión.

.
Madri Fusion 2022 - Guillermo Navarro

Este se tornou uma vitrine privilegiada das novas tendências da cozinha espanhola, encabeçadas pelo chef Ferran Adrià, mas também de novos talentos até então escondidos em suas fronteiras. Foi onde despontaram Gastón Acurio, do Peru; Seiji Yamamoto, do Japão; René Redzepi, da Dinamarca; Pascal Barbot, da França; Alex Atala, do Brasil.

Agora, depois de um hiato presencial produzido pela pandemia, o Madrid Fusión retornou plenamente à ativa, comemorando vinte anos de existência, e acolhendo palestrantes como Albert Adrià, Joan Roca, Dabiz Muñoz, da Espanha; René Redzepi e Ramus Munk, da Dinamarca; Henrique Sá Pessoa, de Portugal; Antonia Klugmann, da Italia; Héctor Solís, do Peru; Hisato Hamada, do Japão; Mario Castrellón, do Panamá; além da chef ucraniana Ksenia Amber, de Odessa, ovacionada no final do evento.

Isto, sem falar da participação recorde em sua história: foram 16.500 visitantes, 1.771 inscritos nas palestras, além de 1.031 jornalistas.

Parece que foi o prenúncio do retorno das grandes confraternizações (com seus debates e encontros) pessoais entre chefs e amantes da cozinha, que durante a pandemia tiveram apenas pálidas versões virtuais, destituídas do calor humano.

Em Madri coube-me ficar num hotel que foi uma grata surpresa: o Pestana CR7, lindamente localizado numa esquina charmosa da Gran Vía. Você leu bem: esta linha de hotéis, da rede portuguesa Pestana, leva a assinatura do jogador Cristiano Ronaldo.

O que ela poderia oferecer? Confirmando meu ligeiro temor inicial, sim, ela carrega o marketing do astro do futebol, mas reduzido a uma discreta vitrine no lobby com produtos que têm sua marca.

Fora isto, o que encontrei foi um hotel boutique moderno, bem adaptado num edifício antigo e charmoso, com quartos compactos mas bem desenhados e confortáveis, além de um bar e um restaurante no terraço superior com vistas para a bela avenida madrilenha.

E, neles, um cardápio curioso: nem português nem espanhol, mas italiano. E bem resolvido: pizzas para o viajante mais apressado e menos endinheirado, pratos com acabamento mais contemporâneo (como uma berinjela à parmigiana enriquecida com lâminas fritas e crocantes do legume), e, sem se afastar da Itália, mas com homenagem às tradições ibéricas, um suculento prato de bacalhau.

Das aventuras madrilenhas fez parte um longo e surpreendente almoço no DiverXO, restaurante multiestrelado do chef Dabiz Muñoz, conhecido por sua cozinha irreverente e multicultural (além do seu cabelo moicano). Sobre este almoço, é preciso um artigo à parte. Preciso dizer, porém, que, depois de comer ali e em outros grandes restaurantes, e às vésperas de despedir-me de Madri, ficou faltando um tico do sabor local e antigo.

Arranquei do concierge do hotel um endereço a que pudesse ir a pé e que um madrilenho como ele (não um hóspede estrangeiro) frequentaria em busca de um prato de dobradinha (callos a la madrileña). E assim descobri um boteco chamado Bodega de la Ardosa, fundada há... 130 anos.

Na salinha lotada me espremi numa banqueta diante de um balcãozinho, bebi vermute e vinho branco, comi croquetas de sépia e ataquei as tripas servidas na tigela de cerâmica. Aí pude zarpar com o coração tranquilo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.