Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Josimar Melo
Descrição de chapéu África

Muitos lugares de má fama podem ser bastante atraentes para turistas

Aqui não incluo ditaduras, que até são inócuas a turistas, mas me dão engulhos

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Rua do centro histórico de Cartagena, na Colômbia Rafael Balago - 5.fev.23/Folhapress

Numa conversa recente, quando mencionei uma viagem à Colômbia, ouvi de uma pessoa seu receio de ir àquele país por considerá-lo inseguro.

E pensei então em como a imagem de um lugar pode ser afetada, por longo tempo, pelo temor que seus problemas políticos, econômicos ou sociais podem ter gerado em algum período de sua história.

Foi uma surpresa para meu interlocutor quando lhe contei que o verdadeiro estado de guerra em que viveu a Colômbia por muitos anos, por conflitos dos governos com organizações políticas ou com o crime organizado, já não dominava o cenário do país.

Uma cidade pujante como Bogotá ainda tem esquemas de segurança visíveis, mas não o clima de tensão que reinava na época em que um sequestro podia acontecer a qualquer momento a seu lado.

E Medellín, que até hoje nos seriados de TV aparece como refém de cartéis de narcotraficantes (o que foi mesmo), merece mais do que nunca uma visita, por sua urbanidade (é das campeãs em ciclovias no mundo), por sua topografia, por sua inclusão (um lindo teleférico une rapidamente o centro a sua periferia da montanha).

O crime organizado corrompe políticos locais e autoridades nacionais, em países como o México (onde há cidades virtualmente controladas por traficantes) ou em cidades como o Rio de Janeiro (onde milicianos e narcotráfico dominam regiões inteiras e até confraternizam com recente ex-ocupante do Palácio do Planalto). Mas esses locais têm, não obstante, enormes atrativos para quem os visita. Além do mais, com um mínimo de informação, não é difícil para o turista evitar situações de risco.

Então me pus a pensar em lugares do mundo que pareciam assustadores e que, portanto, os turistas os evitavam.

Não falo de locais que me dão engulhos por seus regimes políticos —tenho forte resistência a visitar ditaduras e autocracias, mas já o fiz por dever profissional e, ainda que me deem alergia, constatei o óbvio: ditaduras são perigosas para seus cidadãos, mas não necessariamente para turistas.

De toda forma, estava pensando mais em regiões que, pelas notícias que temos, seriam áreas de conflito, perigosas para quem estiver por perto, morador ou visitante.

Não fui checar nenhuma delas, mas, pelo que depreendi, um país como o Afeganistão, que parece estar sempre em estado de guerra, pode ser muito amigável com turistas –até pela raridade da presença destes.

No Paquistão, além das festas populares e templos budistas, há as belezas naturais da geografia do vale Kalash.

No Iraque, nem é preciso passar por Bagdá se quiser visitar a região do Curdistão, onde a hospitalidade inclui o afrouxamento dos obstáculos estúpidos da religião, o que facilita o consumo de bebidas alcoólicas e permite que mulheres possam circular sem cobrir a cabeça.

Vista de parte da cidade de Sulaymaniyah, no Curdistão iraquiano
Bairro da cidade de Sulaymaniyah, no Curdistão iraquiano - Getty Images via BBC

A Somália, país do qual só costumamos receber notícias ruins, como se o local fosse um cenário de Mad Max governado por milícias bolsonaristas, tem também seu bolsão turístico. Chama-se Somalilândia, uma nação que proclamou sua independência (pouco reconhecida mundo afora), vive em paz e exibe riquezas arqueológicas, como as valiosas obras de arte rupestre pré-históricas.

Construção na cidade de Berbera, na Somalilândia
Construção na cidade de Berbera, na Somalilândia, costa leste da África - Yasin Yusuf na Unsplash

Repito que não visitei nem faço aqui uma recomendação de visita a esses lugares, estou apenas compartilhando minhas pesquisas sobre eles, quase sempre tidos como muito perigosos. Se vou visitá-los, não sei. Mas como vivo em São Paulo há décadas, e o único lugar do mundo onde fui assaltado não foi aqui, mas sim em... Londres, por que não arriscar?

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