Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Picuinhas brasileiras
Abençoado por Deus e bonito por natureza, canta Jorge Ben Jor, este país tropical parece fadado a não fazer a coisa certa porque sua elite dirigente é mesmo a vanguarda do atraso.
Peguemos as duas mais recentes ações do governo federal em torno do esporte.
A Medida Provisória do Futebol e o convite a Ana Moser para ser a Autoridade Pública Olímpica (APO).
A MP é bombardeada pela cartolagem da CBF e dos clubes. Exceção feita, registre-se, à do Flamengo que até já adaptou seu estatuto à transparência e fim da impunidade previstos na MP.
Já o prefeito carioca, Eduardo Paes, que não aceita dividir o protagonismo da Rio-16, apesar de a maior parte do investimento de dinheiro público vir dos cofres federais, dinamita a APO.
Os cartolas do futebol escondem o temor que sentem diante de novos tempos moralizadores e exigentes de moderno modelo de gestão com picuinhas.
Dizem que há intervenção estatal onde existe apenas exigência de adesão a quem quiser saldar suas dívidas com prazo generoso.
Fazem do apoio às categorias de base, medida que explica boa parte do sucesso alemão, e ao futebol feminino, barreiras demagógicas, porque, tempos atrás, quando vislumbraram a possibilidade pornográfica de uma anistia, prometiam como contrapartida o investimento nos esportes olímpicos. Sabe por quê? Porque não seriam fiscalizados e não investiriam um tostão, para poder continuar a fazer transações milionárias, com comissionamentos idem.
O que pega a maioria é o medo da fiscalização, e da punição, por meio de um organismo previsto na MP.
O problema do alcaide carioca é outro.
Centralizador e ambicioso, de olho no governo do Rio de Janeiro e até mesmo na presidência da República, Paes guerreia contra a ideia da APO, a representante federal no acompanhamento da parceria com as esferas estadual e municipal, desde que esta foi criada para seguir a bem sucedida experiência londrina, em 2012.
O prefeito, dia desses, sem ruborizar, disse que jamais uma Olimpíada havia sido feita com tão pouco dinheiro público.
Ignora, ou finge ignorar, os Jogos de Los Angeles, em 1984, 100% financiados pela iniciativa privada, a ponto de seu comandante, o empresário Peter Ueberroth, ser escolhido como "Homem do Ano" da revista "Time", responsável, além do mais, por um lucro de 250 milhões de dólares.
Intrigante, tenta impedir a indicação de Ana Moser ao lembrar que ela foi contra a Olimpíada no Brasil.
Mas não explica por quê.
Ela, como todos os esportistas com um mínimo de consciência, não queria, como continua a não querer, uma Olimpíada sem legado esportivo, sem política de massificação, evento apenas para empreiteiras e grandes anunciantes.
A ideia do governo em tê-la é exatamente para cuidar disso, para tentar salvar um legado, para que a Rio-16 seja de todos e não apenas de alguns poucos.
Até um menino de mentalidade mediana apoiaria, diria Jorge Ben Jor.
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