Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Copa do Mundo

De Sevilha em 1982 a Sochi em 2018, treinamentos e relações mudaram

O tempo deixou os treinos das Copas mais táticos e o acesso da mídia mais restrito

Sochi

O primeiro treino que vi como jornalista de uma seleção brasileira se preparando para Copa do Mundo aconteceu em Sevilha, na Espanha, em 1982.

Antes, em 1966, adolescente, lembro de ter ido ao Pacaembu ver outro treino, quando nada menos que quatro times foram convocados para a fase preparatória, populismo da antiga CBD que resultou na eliminação ainda na fase de grupos na Copa da Inglaterra, porque acabamos sem time algum.

Profissional da imprensa acompanha o treino da seleção brasileira, liberado por 20 minutos para a mídia
Profissional da imprensa acompanha o treino da seleção brasileira, liberado por 20 minutos para a mídia - Eduardo Knapp/Folhapress

As diferenças entre os treinamentos na Andaluzia e em Sochi são gritantes. As ambientais não, mas as técnicas e de relacionamento são estridentes. 

Porque o sol de Sevilha era do tamanho ou maior que o de Sochi, assim como o de Guadalajara, no México, quatro anos depois, o de Asti, perto de Turim, na Itália, em 1990, assim como em São Francisco, nos Estados Unidos etc. e tal.

Mais de três décadas atrás, o relacionamento entre a seleção e a imprensa era aberto, os jornalistas viam os treinos nas laterais do gramado, conversavam de braços dados com o treinador e com os jogadores.

À medida que o tempo passou tudo mudou a ponto de os repórteres terem acesso apenas às entrevistas coletivas, com atletas escolhidos pela CBF e nem sempre, ou quase nunca, os que a mídia gostaria.
A diferença maior está na evolução dos treinamentos táticos.

Mestre Telê Santana gostava de dar coletivos em que buscava repetir situações de jogo e não fazia a menor cerimônia em dar instruções sobre fundamentos para seus convocados, como um professor para os alunos. O pior, ou o melhor, é que era capaz de fazer o que ensinava, porque batia na bola com rara categoria.

​Tite, diga-se de passagem, também jogava futebol refinado, sem ter alcançado o mesmo sucesso de Telê na carreira de jogador, embora possa superá-lo como técnico caso tenha a felicidade de "bater campeão", como gosta de dizer. Mas parece ter constrangimento em palpitar sobre como seu centroavante deve cabecear ou como gostaria que os laterais batessem na bola para cruzá-la na área.

Ao contrário do que faz do ponto de vista tático, detalhista ao extremo, obsessivo nos mínimos detalhes.
O que é mais notável quando se comparam os ambientes de hoje e o da última Copa disputada fora do Brasil, em 2010, na África, é que o time de Dunga se preparou para a guerra ao passo que o de Tite está organizado para festa.

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