Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Mestre Janio de Freitas antecipou-se como é habitual e o mau aluno busca segui-lo.

O que a rara leitora e o raro leitor lerão aqui vem não se sabe bem de onde, tão insondáveis são os mistérios da morte.

Psicografado e inspirado no arcebispo emérito e cardeal de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, para quem “não existem derrotas definitivas para o povo”, defensor intransigente dos direitos humanos e da liberdade de expressão.

Não, ele não era comunista! Era corintiano. E democrata.

Como se sabe, por decreto do presidente eleito, e adepto da tortura, esta Folha está morta e enterrada.

A punhalada final veio de obscuro empresário catarinense com aparência de espermatozoide —uma contradição em termos porque símbolo de vida.

Revelo que é a primeira vez que escrevo num jornal falecido.

Minha experiência se limitava a ter escrito para periódicos que desapareceram, como Movimento, Opinião, Pasquim, Voz da Unidade, Amanhã, Nós Mulheres, todos da chamada imprensa alternativa, ou nanica, nos tempos escuros da ditadura, sempre com pseudônimo, Norberto Amaral, ou sem assinar.

A experiência atual é inédita, revolucionária mesmo, mas ainda, como antes, de resistência.

Porque resistir é preciso, viver nem tanto.

Com a vantagem de ser menos assombroso do que ver juiz, que expulsou de campo o favorito a ser campeão de votos, virar ministro de quem, por consequência, chegou ao poder.

Poder absoluto, vê-se, tanto que decretou a morte de um veículo a dois anos de completar seu primeiro centenário.

Ora, diante disso, o risco do Palmeiras perder também o título brasileiro, o São Paulo ficar fora da próxima Libertadores ou o Corinthians ser novamente rebaixado, convenhamos, é fichinha, não assusta ninguém.

Mesmo porque o Palmeiras deu uma demonstração de força ao superar a eliminação da Libertadores e vencer o Santos por 3 a 2. 

Força não apenas pelos dois gols feitos no começo do jogo, quando demonstrou não estar traumatizado.

Mas, principalmente, depois que sofreu o empate e ainda assim conseguiu fazer o gol da vitória, apesar do gramado pesado e do desgaste por estar em campo 65 horas depois do embate com os argentinos.

Força que o São Paulo não teve para manter a vitória que chegou a fazer por merecer contra o Flamengo ao ceder o 2 a 2 e, depois, quase sofrer a virada, porque permitiu ao time rubro-negro perder dois gols imperdíveis, com Vitinho e Lucas Paquetá.

De candidato ao título, o Tricolor terá de lutar muito ainda para garantir vaga direta na Libertadores, de todo modo situação bem melhor que a do rival Corinthians, com quem jogará na próxima rodada, em Itaquera.

Porque o Alvinegro luta mesmo é para ficar longe da zona do rebaixamento e até quando faz gol, como contra o Botafogo, faz contra e perde de 1 a 0.

Enfim, o Palmeiras está vivíssimo, o São Paulo vivo e o Corinthians na UTI.

Todos em melhor em situação que esta Folha, assassinada por decreto presidencial.

De resto, invejo aqueles que a despeito de tudo já dito pelo eleito ainda acham ser preciso esperar para ver o tamanho da encrenca. Gostaria de ser tão otimista.

E tenho pena de quem vai além de não criticá-lo, mas aplaude até a fantasmagórica indicação do juiz.
Ainda bem que escrevo para um jornal inexistente. 

Ninguém lê.

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