Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Times brasileiros são fregueses de Boca Juniors e River Plate

Os dois portenhos têm ampla vantagem sobre nossas equipes na Libertadores

Jogador Ramón Ábila, do Boca Juniors, comemora gol marcado contra o Palmeiras pela semifinal da Copa Libertadores, no Allianz Parque
Jogador Ramón Ábila, do Boca Juniors, comemora gol marcado contra o Palmeiras pela semifinal da Copa Libertadores, no Allianz Parque - Miguel Schinchariol - 31.out.2018/AFP
Juca Kfouri
São Paulo

Os protagonistas do Superclássico, que pela primeira vez decidirá a Libertadores, mandam sem dó nem piedade nos confrontos em mata-mata com os brasileiros.

Tanto que dá até pena de nós mesmos.

Em 18 embates contra o Boca Juniors, apenas três vezes os brasileiros eliminaram os xeneizes.

Em 1963, o Santos ganhou os dois jogos finais, no Maracanã, por 3 a 2, e na Bombonera, por 2 a 1.

Sanfillipo que, depois, defendeu o Bangu e o Bahia, fez os três gols argentinos.

Coutinho também marcou três vezes e Lima e Pelé fizeram os demais tentos brasileiros, numa época sem antidoping e em que ganhar em Buenos Aires era tarefa hercúlea, ou “pelesística”.

Em outra decisão, só o Corinthians levou a melhor, ao empatar, com o célebre gol de Romarinho no fim do jogo, na Bombonera, e ao vencer por 2 a 0, ambos os gols de Emerson Sheik.

Antes, pelas semifinais de 2008, o Fluminense arrancou empate por 2 a 2, mas em Avellaneda, e venceu por 3 a 1, no Maracanã. O Flu, dirigido por Renato Portaluppi, ainda chamado de Gaúcho, acabou derrotado pela equatoriana LDU.

Com o River Plate, neste século, foram seis mata-matas, e os portenhos levaram a melhor em quatro, eliminados duas vezes, pelo Grêmio, nas oitavas de final de 2002, e pelo São Paulo, nas semifinais, em 2005, quando, pela primeira vez, a decisão se deu entre dois times do mesmo país, o Tricolor paulista e o Atlético Paranaense, ineditismo dobrado no ano seguinte com Inter e São Paulo.

Nas oitavas de final, em 2003 e em 2006, o River eliminou o Corinthians no Morumbi e no Pacaembu, palco de deprimente batalha campal ao fim do jogo, quando torcedores alvinegros quase causaram uma tragédia no estádio, corajosamente impedida pela PM.

Depois, eliminou o Cruzeiro no Mineirão, pelas quartas de final de 2015 e, agora, o Grêmio, em Porto Alegre. 

Como fez o Boca contra o Palmeiras, em plena casa verde com mais de 40 mil torcedores.

Ou seja, os hermanos não se contentam em fazer nossos times de fregueses, fazem isso com requintes de crueldade, pelos diversos estádios nacionais, de norte a sul —pois o Paysandu, em 2003, depois de histórica vitória na Bombonera, por 1 a 0, gol de Iarley, pelas oitavas de final, caiu em Belém por 4 a 2.

Até então apenas o Santos, do Rei, e o Cruzeiro, de Ronaldo Fenômeno, em 1994, tinham vencido no mítico estádio xeneize.

Cabe perguntar por que, exceção feita às seleções de futebol, a vantagem argentina é tão significativa?

Tirante nosso pentacampeonato mundial contra o bi deles, a supremacia é inconteste.

Os argentinos serão campeões da Libertadores pela 25ª vez, contra 18 títulos brasileiros.

Na Copa América, são 14 títulos deles e oito nossos, embora o Uruguai seja o maior campeão, 15 vezes.

Alguém dirá, com alguma razão, que nem sempre demos maior importância aos torneios continentais, tanto os de clubes quanto os de seleções. 

Mas, convenhamos, a diferença é abissal, ainda mais se compararmos o tamanho dos países, suas populações e o grau de investimento de cada um.

Isso para não falar das duas medalhas de ouro olímpicas de uruguaios e de argentinos, contra uma do Brasil.

Padecemos ainda do complexo de vira-latas em relação aos vizinhos, ou “complejo de quiltros”, como dizem eles, sem dizer, porque a expressão é exclusivamente rodriguiana?

Ou, também como disse Nelson Rodrigues, “muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”?

O certo é que está demais.

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