Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Seleção brasileira conta com sorte e eficácia; agora é esperar por março

Para botar os pés no chão será bom lembrar que o Uruguai foi o primeiro adversário respeitável

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Sem sorte não se chupa nem um picolé, já dizia Nelson Rodrigues. Porque cai no pé.

O que poderia exigir superação do time de Tite resumiu-se à atuação segura e de aproveitamento elogiável na construção de vitória importante na casa do rival.

Nem bem o clássico sul-americano, e mundial, começou, os uruguaios acertaram o travessão brasileiro.

Fizessem ali o 1 a 0 e a vida nacional ficaria complicada.

Sem levar perigo ao gol da Celeste até mais da metade da etapa inicial, quis a fortuna que o chute de Arthur desviasse na zaga para inaugurar o placar.

Terminasse o primeiro tempo com a vantagem mínima e já estaria de ótimo tamanho.
Só que ainda antes do fim, em jogada ensaiada e executada com perfeição, o excelente Renan Lodi pôs a bola na cabeça de Richarlison para fazer 2 a 0.

Antes de ir para o intervalo, os anfitriões ainda mandaram nova bola na travessão de Ederson.

"Mala suerte", dirão os hermanos. Com razão.

Porque a tranquilidade do 2 a 0 permitiu uma atuação absolutamente segura ao time amarelo durante todo o segundo tempo, a ponto de descontrolar o experiente Cavani, expulso com acerto por entrada sem noção em Richarlison.

Alguém poderá dizer que não há do que reclamar da seleção, afinal com quatro vitórias em quatro jogos nas Eliminatórias para a Copa do Mundo do Qatar, 12 gols marcados, apenas dois sofridos.

Para botar os pés no chão será bom lembrar que o Uruguai foi o primeiro adversário respeitável, porque Bolívia, Peru e Venezuela são o que são, e que ainda se joga por nossos lados do planeta bola um futebol em 33 rotações por minuto, quando na Europa se joga em 78, muito mais veloz e intenso.

Verdade que lá há gramados que permitem e aqui nem todos.

Agora é esperar por março, quando a rodada reserva, fora de casa, a Colômbia, que virou saco de pancada, e a Argentina de Lionel Messi, na Arena Pernambuco, no dia 30.

Seja lá como for, são 11 clássicos sem derrota para o Uruguai desde 19 de novembro de 2003, com oito vitórias brasileiras, três delas categóricas no estádio Centenário por 4 a 0, 4 a 1 e 2 a 0, em disputa por vagas nas Copas do Mundo de 2010, 2018 e 2022.

O problema está, e Tite sabe, que vencer no quintal sul-americano pouco significa quando se pensa no eletrizante futebol jogado na Europa.

Chocante!

Quem viu o goleiro Manuel Neuer, o meio-campista Toni Kroos e o técnico Joachim Löw em Belo Horizonte, em 2014, jamais imaginou que pudesse vê-los com cara de quem levou 6 a 0 como em Sevilha, seis anos depois.

Jogadores da Espanha comemoram um dos seis gols que marcaram no goleiro alemão Neuer, de joelhos ao fundo
Jogadores da Espanha comemoram um dos seis gols que marcaram no goleiro alemão Neuer - Pablo Morano/Xinhua

A impotência alemã diante do impetuosidade espanhola pela Liga das Nações foi dessas coisas surpreendentes que o futebol —por mais capaz que seja de produzir resultados inesperados, como o 7 a 1 no Mineirão, ou o 8 a 2 do Bayern Munique sobre o Barcelona, em Lisboa, neste ano— às vezes apresenta para chocar.

O extraordinário goleiro Neuer, presente tanto no 7 a 1 quanto no 8 a 2, sofreu seis gols pela primeira vez na vida e não teve culpa em nenhum deles.

A perplexidade dele dentro de campo não era menor da quem via de fora.

Terá muito a contar aos netos e ainda está ganhando de 15 a 9.

Se pudesse combinar com os deuses dos estádios, não tenham dúvida a rara leitora e o raro leitor, ele preferiria ter vencido o Brasil por 4 a 1, o Barcelona por 4 a 2 e perdido apenas por 3 a 0 para a Espanha.

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