Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri
Descrição de chapéu
Juca Kfouri

Viva o campeonato estadual!

Mudar de ideia é uma virtude de quem não fica preso ao que disse no passado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Foram anos, décadas mesmo, pregando contra a existência dos campeonatos estaduais. Desde os tempos da revista Placar.

Pelo menos a cada quatro editoriais que escrevia, um era para pedir a extinção dos torneios.

Lembro particularmente de uma reunião em que estava o ex-presidente do São Paulo, Henri Aidar, que educada e carinhosamente me chamou de herege por defender mais espaço para o Campeonato Brasileiro no lugar do que eu chamava de avião de hélice contra os a jato.

Muita gente jamais entendeu como eu poderia considerar o título paulista do Corinthians de 1977 o mais importante da história do clube e mesmo assim desdenhar dos estaduais.

Pelo interior afora arrumei inimigos que me chamavam de elitista por não querer que os times grandes da capital, e o do litoral, expusessem seus craques em estádios raquíticos e gramados criminosos.

Não aceitavam o argumento de que não pode ser elitista quem defende os interesses da maioria dos torcedores, porque vinham com a contra-argumentação do celeiro de jogadores revelados pelos pequenos etc.

Flamengo venceu o Madureira por 2 a 1, de virada, pelo Estadual do Rio
Flamengo venceu o Madureira por 2 a 1, de virada, pelo Estadual do Rio - Marcelo Cortes/Flamengo

Paulistas ficavam bravos por verem seu campeonato centenário ser chamado de Paulistinha, os cariocas da mesma forma assim como os gaúchos com o Carioquinha e o Gauchinho. Engraçado até, sobre os dois últimos, é que quando liam só a referência aos seus torneios, diziam para eu chamar o campeonato de São Paulo no diminutivo, porque, como se sabe, torcedor não é nada bairrista.

Pois bem, o que me fez mudar de opinião foi o jogo do Flamengo em Madureira na tarde de quarta-feira (16) da semana passada.

Eu havia ridicularizado as 1.009 testemunhas presentes ao estadinho de Conselheiro Galvão — não elas, mas o número.

Eis que, de repente, EUREKA!

Soube que naquela tarde, exatamente às três e meia da tarde, Arquimedes, levado pelo pai, seu Rubinho, começou a ver, de corpo presente, o primeiro jogo de futebol em sua curta vida de apenas 6 anos de idade.

Arquimedes logo se apaixonou pelas cores grená, azul e amarela do Tricolor Suburbano embora percebesse que seria minoritário. Sim, porque mesmo só entre escassas 1.009 pessoas é possível, com algum esforço, ser minoria.

São insondáveis os motivos que acendem a chama da paixão e lá estava o pequeno Arquimedes para comprovar.

Mais: nascia ali, no caldeirão do subúrbio carioca, um novo torcedor que haverá de frequentar estádios, idolatrar seu goleiro, o beque de fazenda, o centroavante rompedor.

Dane-se o Maracanã lotado, Wembley ou Camp Nou.

Não existiria Lionel Messi se não existisse Ygor Catatau, o autor do 1 a 0 para o Madureira!

Nem a perplexidade de seu Rubinho, rubro-negro fanático, batizado Rubens em homenagem ao Doutor Rubis, célebre meia que brilhou na Gávea na década de 1950.

Sim, rara leitora, raro leitor: me penitencio por tantas colunas em defesa dos clássicos e contra a presença dos pequenos à mesma mesa frequentada pelos grandes.

Dou a mão à palmatória e prometo nunca mais incorrer no mesmo erro.

Passo a defender a existência dos campeonatos estaduais com o mesmo ardor com que defendo a reforma ortográfica.

A que descreve assim o lance em que "o atacante para para" fazer o gol, um passe, seja ele de que time for.

Aliás, em relação à maravilhosa reforma ortográfica, só a crítico por não ter criado o sinal de ironia, como existe o de exclamação.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.