Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Alguma coisa acontece em Santos para clube revelar tantos atacantes brilhantes

Pelé apareceu na Vila Belmiro no século 20; neste, já surgiram Robinho, Neymar, Gabigol e Rodrygo

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O tricampeão da Fórmula-1 Jackie Stewart um dia se saiu com esta para explicar o sucesso dos pilotos brasileiros: "Deve ser a água que eles bebem".

Não pode ser outra a explicação para os atacantes excepcionais revelados pelo Santos.

Se no século 20 foi na Vila Belmiro que apareceu o Rei Pelé, e bastou, neste 21 já surgiram outros, no mínimo, quatro: Robinho, Neymar, Gabigol e Rodrygo.

Rodrygo comemora gol durante partida entre Real Madrid e Manchester City pela Liga dos Campeões - Meng Dingbo/Xinhua

Sem comparações com o Rei, nem mesmo entre os do quarteto, alguma coisa acontece na Vila Belmiro.

O que Rodrygo fez no hospício em que se transformou o Santiago Bernabéu justifica a perplexidade.

Só o poeta Federico Garcia Lorca (1898-1936) contaria devidamente a epopeia madridista na virada sobre o Manchester City.

Se Stewart acertou com humor britânico para tratar do trio Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, resta plagiá-lo para falar do quinteto santista.

Esqueça o caloteiro Fittipaldi ao abandonar as pistas e do motorista Piquet a serviço do fascista. O piloto escocês se referiu ao talento deles.

Também não está aqui o julgamento fora dos gramados do estuprador Robinho, do problemático Neymar, que deve ter advogados melhores que os do pedalador, ou mesmo de Gabigol, flagrado em cassino clandestino em plena pandemia.

Porque a água da Vila também se resume ao talento.

Rodrygo é a exceção.

Ainda é cedo para dizer, aos 21 anos, até que ponto a arte o levará.

O que já se sabe é que na semana passada ele entrou para história do maior clube de futebol do Planeta Bola, aquele que é sete vezes campeão mundial e 13 vezes campeão europeu.

E, atenção: não confunda o melhor time do mundo, o Santos de Pelé —simplesmente porque só o Santos o abrigou no auge e cercado por uma porção de craque–, com o maior clube da Terra, indiscutivelmente o Real Madrid.

O gol de empate aos 90 minutos bastaria para eliminação honrosa dos merengues; o 2 a 1, então, aos 91’, para levar a semifinal da Champions à prorrogação, parecia o êxtase permitido pelos deuses dos estádios.

Insatisfeito, não contente com tantas proezas, Rodrygo ainda deu o passe para Benzema sofrer o pênalti que decretou a classificação do Real para jogar a final contra o Liverpool, em Paris.

O rapaz não parece excepcional apenas pelo y.

Seu pai, Eric Goes, 37, ex-lateral de Rio Claro, Oeste, Paulista, Juventus, Linense, Mirassol, ASA, Criciúma, Ceará, Boa Esporte e Guarani, que já marcou Neymar e fez gol em Rogério Ceni, largou o futebol para cuidar da carreira do filho e, talvez, para não ter de marcá-lo.

Quem conhece bem Rodrygo e Eric diz que não há risco de relação tóxica como a entre os Neymar.

O Real Madrid quis ter Pelé nos anos 1960 e jamais o convenceu.

Neymar quase jogou lá ainda com 13 anos.

Robinho jogou, por três temporadas, e, ao chegar, em 2005, foi tratado como o novo Pelé. A expectativa desmedida o levou a começar bem e terminar mal, deslumbrado e vendido exatamente ao City, rebaixado a coadjuvante da noite épica.

Seis décadas depois de amargar a frustração da recusa real, Madri festeja Rodrygo, que é chamado de Rodraigo nas Redações brasileiras e, definitivamente, deixou de ser esperança para assumir o protagonismo.

Difícil cravar que irá ao Qatar. Obrigatório que esteja em campo no Stade de France, no dia 28 de maio.

E, cá entre nós, a Champions é muito melhor que a Copa.

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