Amigos de Neymar contam que uma das primeiras coisas que o jogador faz ao entrar no vestiário, após cada partida, é checar o celular. Quer ver se há mensagens do pai, Neymar da Silva Santos. Se ele considerar que o filho fez algo errado em campo, num dos raros períodos em que toma decisões por si mesmo, vai dizer.
Uma das afirmações que mais irritam o pai do jogador é a de que Neymar vive em uma bolha.
"É natural que um filho seja protegido pelos pais. A posição de mimado desportivamente não é nada pertinente. É um dos caras que mais treinam, tem muita responsabilidade profissional", disse o pai à Rede Globo, em fevereiro.
O papel de protagonismo que ele exerce na vida do filho de 27 anos apareceu mais uma vez após a acusação de estupro contra o jogador, feita pela modelo Najila Trindade Mendes de Souza, que veio à tona há cerca de dez dias.
Foi o pai que participou de programas de TV para defendê-lo. O vídeo publicado no Instagram do jogador, estratégia da defesa e que continha fotos íntimas da acusadora, teve o aval do pai. "Prefiro crime de internet a crime de estupro", ele disse à Band.
Há outros exemplos de decisões tomadas pelo pai na carreira do filho, já chamado de "cliente" em uma entrevista.
A influência da figura paterna começa no nome. Apesar de o mundo chamar o atacante de Neymar, para as pessoas de suas empresas ou que vivem ao seu redor, ele é Neymar Júnior. "Neymar é o meu pai", disse o atacante quando ainda defendia o Santos.
Como empresário, pai e dono da imagem do filho, Neymar da Silva Santos também está por trás de episódios que desgastaram o atleta.
Ele aceitou a negociação em que vendeu a preferência de contratação do atacante por 10 milhões de euros (R$ 43,6 milhões em valores atuais) para o Barcelona, em 2011.
Isso fez com que Neymar entrasse em campo pelo Santos para jogar a final do Mundial de Clubes daquele ano já vendido para o rival.
Desgaste maior ocorreu com a investigação de possível sonegação de impostos na transação, em que a Receita Federal cobra R$ 69 milhões. A defesa do atleta contesta o valor, mas suas empresas tiveram bens bloqueados.
Neymar pai pediu uma audiência e foi atendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir o tema.
Além de ser o responsável pela administração das empresas, ele leva a sério o fato de ser o empresário do camisa 10 da seleção brasileira.
Em troca de emails, aprova ou veta mensagens a serem publicadas em nome do jogador, é informado sobre questões de viagens dos amigos e faz de tudo para que o filho não seja incomodado.
Apesar do discurso oficial ser o de que o atacante decidiu trocar o Barcelona pelo PSG, quem amarrou a negociação e o aconselhou na mudança foi o pai.
Foi a maior transação da história do futebol (R$ 969,4 milhões em valores atuais), muito vantajosa financeiramente para ambos. Esportivamente, não se pode dizer o mesmo.
Apesar de dois títulos franceses, o clube não chegou perto de vencer a Champions League, e Neymar nem sequer voltou a ser cogitado ao prêmio de melhor do mundo.
No aspecto pessoal, o pai não perde a chance de defender o filho. Pessoas próximas a Neymar reconhecem que o empresário gosta do confronto como forma de defesa.
Foi o que ele fez em episódios como o em que Walter Casagrande chamou o atleta de mimado: rebateu com postagem no Instagram atacando o comentarista da Globo.
Na última quarta (5), quando Neymar deixou a partida contra o Qatar lesionado, o pai entrou no vestiário da seleção para apoiá-lo, prática incomum.
"Eu ia com ele nos jogos do Neymar [na base] e às vezes tinha de pedir calma porque, se alguém falava mal do Neymar, ele queria brigar", diz Newton Lobato, pastor de igreja que era frequentada pela família.
Agora, em meio a mais uma polêmica, ele adota a estratégia de mostrar influência. Após o escândalo estourar, entrou ao vivo no programa do jornalista José Luiz Datena, com quem tem ótima relação.
Datena divulgou o nome da modelo que acusa o atleta, até então protegido pelo sigilo do boletim de ocorrência.
Na semana seguinte, irritado com reportagem que considerou negativa da Globo, o pai disse à direção da emissora que o repórter Mauro Naves foi o responsável por passar seu número de celular a um dos advogados de Najila. O jornalista acabou afastado da cobertura esportiva.
Enquanto isso, o filho permaneceu praticamente em silêncio e só falou sobre a acusação no vídeo no Instagram.
O pai costuma dizer a assessores que quer o jogador preocupado só com o que acontece em campo. Por isso, procura blindá-lo. Neymar tem hoje dez patrocinadores, que pagam cerca de R$ 100 milhões por temporada ao atleta.
A Nike já disse publicamente que acompanha os fatos. A Mastercard cancelou uma campanha e cobrou posicionamento do estafe do atleta. A EA Sports também procurou os representantes do jogador. A Red Bull não descarta romper o contrato caso a situação piore para o atacante.
Em meio ao furacão, o pai tenta preservar não apenas a fortuna da família, mas também o próprio filho, que acompanha, mais uma vez de longe, a defesa feita pelo pai.
A reportagem tentou entrevistar o pai de Neymar, mas não foi atendida por ele até a conclusão desta edição.
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