Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Como nasce um fenômeno no futebol

É fácil apontar o jogador diferente quando surge. Difícil é prever se será craque

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Entre as minhas lembranças futebolísticas está a de meu pai dizendo que não tinha tido ainda a sorte de ver "esse Pelé de que tanto falam".

Quando viu uma vez, e mais uma e outra, convenceu-se de que estava diante de um fenômeno e, mais, logo decretou, para surpresa da família, que Pelé era melhor que Friedenreich e Leônidas da Silva. De fato, era.

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Pelé durante entrevista em 2018 - Bruno Santos - 28.nov.18/Folhapress

Ainda criança, não percebia o alcance da constatação, e só com o passar dos anos pude festejar o privilégio de tê-lo visto fazer 1.283 gols em 1.363 jogos disputados.

Já adolescente, testemunhei de longe o surgimento de Tostão. Confesso que achei graça e exagero quando ouvi que ele era o Pelé branco de Minas Gerais.

Primeiro, porque o Pelé genuíno já era mineiro e, segundo, porque, afinal, era muita pretensão. De fato, não era.

Tostão foi genial e se fosse menina deveria ser chamado de Libra Esterlina.

Daí em diante e um pouco mais, virou ossos do ofício identificar os diferentes, aqueles que você aposta que farão história. Nesse quesito, erra-se e acerta-se como os economistas, os meteorologistas e os analistas políticos, na mesma proporção.

Ao ver Roberto Rivellino, no time de aspirantes do Corinthians, em 1965, não cabiam dúvidas de que ali estava um craque. Como no caso de Ronaldo, em 1993, aos 16 anos, no time principal do Cruzeiro.

Erros de avaliação também se repetem.

Um dos mais recentes aconteceu com Alexandre Pato, que dinamitou, pelo Internacional, o Palmeiras no velho Parque Antárctica. Aos 17, estreou na goleada por 4 a 1, com um gol dele, o primeiro antes do segundo minuto, deu duas assistências e fez jogadas espetaculares. Depois, deu no que deu. Ficou rico, mas não enriqueceu o futebol.

Imagino que a rara leitora e o raro leitor estejam imaginando que o próximo a ser aqui citado seja o menino Endrick, 16, que estreou pelo Palmeiras contra o Coritiba, no show alviverde paulista por 4 a 0.

De fato, de fato e de direito, ele, sim, ele também é diferente, parece que será craque. Tem sobre Pato a vontade de quem corre atrás da bola como do prato de comida.

Só que não é ele o próximo (até porque já foi…).

O próximo, e novamente, é Erling Haaland, 22, o que não parece que será um fenômeno. Ele é.

"Ah, mas deixou de ser menino faz tempo", dirá o advogado do diabo, com razão.

Deixou de ser menino, mas é fora de série desde então, apenas com menos visibilidade por ter começado na Noruega, ido jogar na Áustria, no Red Bull Salzburg, e de lá ter se transferido para o Borussia Dortmund, da Alemanha, times do segundo escalão europeu.

Nem por isso o centroavante de 1,94 m deixou de ganhar o prêmio Golden Boy, conferido aos menores de 21 anos em atuação em campos europeus.

Para citar apenas alguns agraciados, Wayne Rooney e Lionel Messi ganharam o prêmio em 2004 e 2005.

Erling Haaland comemora depois de partida de Manchester City e Southampton pela Premier League - Action Images via Reuters

Os ex-gremista Anderson e Pato também, em 2008 e 2009…

Haaland hoje está na vitrine do melhor time do mundo, o Manchester City de Pep Guardiola e Kevin de Bruyne.

O norueguês, em 13 jogos pelo time inglês, marcou 21 gols e está em vias de nos obrigar a tratar os Citizens como o Manchester City de Haaland —Guardiola e De Bruyne que nos desculpem.

Feliz de quem acertou com o Rei Pelé, Tostão, Rivellino, Ronaldo Fenômeno, Rooney, Messi, e errou com Pato, Anderson etc.

E que acertará com Endrick?

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