Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Juro jamais ter pensado em escrever uma coluna como a que você poderá ler aqui

Seja como for, escrevo a primeira coluna desde que Edson Arantes do Nascimento se foi

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Edson não era de muito ler. Talvez nunca tenha lido nada escrito por mim. Os poucos discursos que escrevi para ele, tenho certeza, jamais leu.

Estou certo porque vi. Ele pedia, eu escrevia e, na hora agá, o ministro extraordinário de Esporte improvisava.

Abria suas falas, depois de mostrar o papel, dizendo que havia preparado discurso, mas que improvisaria.

E, quase certamente, o que saía na imprensa sobre Pelé era contado por alguém próximo a Edson.

Homenagens dentro do estádio Vila Belmiro antes do início do velório de Pelé em Santos, em 2 de janeiro
Homenagens dentro do estádio Vila Belmiro antes do início do velório de Pelé em Santos, em 2 de janeiro - Nelson Almeida/AFP

Seja como for, escrevo a primeira coluna desde que Edson se foi.

Juro que nunca achei que este dia chegaria porque acreditava cegamente em que ele atingiria os 100 anos — e que os dez anos que nos separavam seriam suficientes para eu ir antes.

Pois não foram.

E não se apressem a rara leitora e o raro leitor em se perguntar: "Mas não foi você quem escreveu o obituário do Rei?".

Sim, foi, mas, como sói acontecer, antes do desenlace.

Daí que passei as férias carregando pedras.

Porque foram tantos os pedidos de entrevistas pelo mundo afora, além do atendimento a outros veículos para os quais trabalho que, quando achei que tudo se acalmaria depois dos longos dias até o funeral, vivemos o horror do dia 8 de janeiro em Brasília.

Impossível calar diante do terror fascista, estimulado pela mídia de extrema-direita com seu discurso de ódio.

E meu blog no UOL virou o meio para expressar a indignação.

Sempre achei engraçado ver as diretoras das revistas femininas da editora Abril contarem o que fizeram nas férias nos editoriais das publicações que comandavam.

Homens, em regra, não têm tamanha naturalidade, razão para nem de longe passava em minha cabeça relatar o que fiz ou deixei de fazer.

Tudo tem uma primeira vez e, infelizmente, esta não é festiva, muito ao contrário.

Até porque o Manchester City, de Pep Guardiola e Kevin De Bruyne, desce a ladeira no Campeonato Inglês; o Golden State Warriors, de Stephan Curry, faz temporada medíocre na NBA e o Corinthians não só foi eliminado da Copinha como estreou com derrota no Paulistinha, ou seja, nem como entretenimento a programação do ócio sorriu para vagabundear minimamente alegre.

Se não bastasse, incomparavelmente pior, o enorme Roberto Dinamite também se despediu, nova dor insuperável no mundo do futebol.

Vimos ainda a CBF, tardia, e convenientemente, repudiar o uso da camisa da seleção como vestimenta de fascista — e o STF se equilibrar na fronteira do autoritarismo, embora contra adoradores de ditaduras e torturas até excessos sejam compreensíveis, coisa que nem todos entendem, como Glenn Greenwald, a quem o Brasil deve tanto.

Milton Nascimento fez seu último show e todos esperamos que, como Sílvio Caldas, faça uma dezena deles.

Chico Buarque segue nos encantando, como uma porção de bravas mulheres que assumiram ministérios importantes para tirar o atraso do país — especial menção, aqui, para Ana Moser, no Esporte.

E Flávio Dino, nome de centroavante goleador, sobrenome de volante clássico, ambas estrelas do Corinthians nos anos 1960, honra o ministério da Justiça, jurista de primeira linha, português impecável, firmeza de nordestino contra a barbárie.

Enfim, aí está 2023.

Ano da reconstrução, da necessidade de pacificar os que não querem a guerra e de punir com o rigor da lei os terroristas, os inocentes inúteis e seus estimuladores.

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