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'Esquerda achou que eu era sua propriedade', diz Glenn Greenwald sobre ataques após criticar Moraes

'Fulanizar' decisões do ministro é um erro, argumenta jurista

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São Paulo

Na última semana, o jornalista Glenn Greenwald vem sendo questionado nas redes sociais, especialmente no Twitter, por criticar a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para conter bolsonaristas golpistas.

Glenn Greenwald critica ações de Alexandre de Moraes
Glenn Greenwald critica ações de Alexandre de Moraes no Twitter e rebate internautas - Reprodução/Twitter

Internautas criticam o que veem como uma concepção norte-americana de liberdade de expressão por parte de Greenwald e o associam à direita. Entre as críticas, alguns retomam polêmicas antigas envolvendo o jornalista.

"Minha crítica ao Alexandre de Moraes vai além da liberdade de expressão. Me preocupa a falta de um processo justo para os presos, ao qual todos os cidadãos têm direito", diz Greenwald em entrevista ao blog #Hashtag.

Ele também critica o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), sem pedido de órgãos de investigação ou parlamentares, em medida inédita adotada por Moraes, e diz se preocupar com a derrubada de perfis nas redes, que atribui ao ministro do Supremo.

Desde a última semana, por exemplo, alguns perfis que usavam o Twitter para questionar o processo eleitoral ou apoiar o ato golpista do dia 8 de janeiro tiveram suas contas tiradas do ar. Entre eles, os deputados federais Nikolas Ferreira e José Medeiros, do PL, Bárbara Destefani, do perfil Te Atualizei, professora Paula Marisa, Paulo Figueiredo Filho, ex-comentarista da Jovem Pan, e o podcaster Bruno Monteiro Aiub, o Monark.

Greenwald foi ao Twitter dizer que o Brasil está sob regime de censura e que Moraes teria banido os perfis. Procurado pela reportagem, o STF não quis comentar a suspensão dessas contas.

O jornalista também entrevistou Monark em seu programa System Update, transmitido pelo Rumble, o que aumentou as críticas ao jornalista na internet.

"Achei importante falar com o Monark para explicar que ele não recebeu aviso do banimento nas redes e não teve oportunidade de contestar as acusações com um advogado", diz Greenwald. Ao #Hashtag, o jornalista afirma que as pessoas tiveram seus perfis banidos sem aviso ou possibilidade de contestação.

Greenwald já foi criticado nas redes anteriormente, durante a disputa presidencial americana em 2020, por publicar uma reportagem sobre a relação do democrata Joe Biden com a Ucrânia e a China no momento em que disputava o pleito contra o republicano Donald Trump. O jornalista reforça que seu papel é informar.

"Se eu deixasse de publicar uma notícia relevante por estar do lado de um candidato político, seria um jornalista corrupto", diz ele sobre as críticas que o associam à direita.

Greenwald compara a atuação do ministro de Alexandre de Moraes à de Sergio Moro (União Brasil), ex-juiz em primeira instância da Operação Lava Jato, que prendeu o então ex-presidente Lula (PT) em 2017.

Ainda que os outros ministros do STF apoiem as medidas de Moraes, Glenn considera seus movimentos perigosos, da mesma forma que diz ter criticado o STF quando a Corte respaldava decisões de Moro durante a Lava Jato.

Em 2019, à frente do The Intercept Brasil, veículo ao qual não pertence mais, Greenwald foi um dos responsáveis por tornar públicas trocas de mensagens entre Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros envolvidos na Lava Jato. A série de reportagens, publicadas pelo Intercept em parceria outros veículo, incluindo a Folha, ficou conhecida como Vaza Jato. Em 2021, o STF declarou parcialidade de Moro no caso de Lula.

"Eu não vi a esquerda me criticar naquela época. Ela achou que eu era sua propriedade", diz Glenn sobre os ataques que vem recebendo nas redes. O jornalista acredita que como seu marido, o deputado federal David Miranda, já foi do PSOL, a esquerda pode tê-lo considerado um esquerdista e agora se sente traída. Ele também atribui ataques nas redes à xenofobia.

Apesar das críticas do jornalista à atuação de Moraes, quando há prática de crimes contra o Estado Democrático de Direito, como o ato golpista do dia 8 de janeiro, a atuação de um juiz com objetivo cautelar é importante, afirma Wallace Corbo, professor da FGV Direito-Rio.

Segundo o jurista, Moraes age com urgência para impedir que criminosos destruam provas e evadam da justiça ou evitar que novos crimes da mesma natureza sejam praticados.

Corbo afirma que as decisões de Moraes são submetidas ao colegiado e endossadas pelos outros ministros do STF, que podem reverter seus efeitos em caso de discordância. "Falar que Moraes exerce um poder que nenhum juiz tem em uma democracia não é verdade. ‘Fulanizar’ as decisões do ministro é um erro que facilita a criação de um adversário político", diz.

Além disso, a diferença nos cargos de Moro, um juiz de primeira instância que atuava sozinho, e Moraes, que atua dentro de tribunal colegiado, torna superficial a comparação entre eles, diz Corbo.

"Moro teve sua parcialidade reconhecida nos processos da Lava Jato, enquanto não há indícios de que medidas adotadas por Moraes busquem prender pessoas específicas", finaliza.

Após o debate movimentar as redes, Greenwald discutiu o tema em transmissão ao vivo na Folha nesta quarta-feira (18), a convite do colunista do jornal, Celso Rocha de Barros. Assista pelo YouTube do jornal.

"Pessoal, estou vendo umas reações esquisitas aqui e gostaria de deixar claro: chamei o Glenn Greenwald para um debate porque o respeito e acho que ele está argumentando sinceramente, mesmo estando errado", tuitou o colunista. Internautas que concordam com Glenn se posicionaram a seu favor.

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