Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu

A primeira taça ninguém esquece

A velha guarda das Laranjeiras homenageia os tricolores de todos os tempos

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Por onde começar?

Por um goleiro chamado Fábio, de 43 anos?

Ou por um lateral-esquerdo de nome Marcelo, de 35?

David Braz exibe o troféu aos torcedores do Fluminense em comemoração ao título da Libertadores no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro
David Braz exibe o troféu aos torcedores do Fluminense em comemoração ao título da Libertadores no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro - Carl de Souza-4.nov.23/AFP

Talvez por um meio-campista chamado Paulo Henrique Ganso, de 34?

Algum deles se compara ao atacante Germán Cano, 35?

O goleiro saiu maltratado do Cruzeiro, onde era chamado de São Fábio, como caso encerrado.

O lateral ganhou tudo que poderia ganhar no Real Madrid e voltou para terminar a carreira no clube que o revelou.

Já o meia parecia que nunca mais seria nada que lembrasse o começo no Santos.

Finalmente, o atacante, que faz gols como toma sorvete, é o argentino a quem foi negada a camisa da seleção de seu país.

Então esses são os caras, são eles os responsáveis pela Libertadores inédita do Fluminense?

Sim, são. Mas não só.

Vai esquecer do colombiano Jhon Arias, 26, mais liso que pau de sebo, endiabrado a ponto de nunca estar no lugar que o adversário imagina que ele estaria?

Ou de Keno, 34, autor dos dois passes para os gols que derrotaram o Boca Juniors?

Na saudação aos campeões não se pode deixar ninguém de lado, nem mesmo o controverso Felipe Melo, 40, motivo de preocupação constante para o torcedor porque nunca se sabe em que momento perderá a cabeça, e querido pelos colegas.

Muito menos de John Kennedy Batista de Souza, 21, o moleque irrequieto que parecia perdido e fez o gol do título, acabou expulso por comemorar no meio da torcida e ganhou, entre os tricolores, lugar tão especial como seu homônimo assassinado em Dallas tem entre os democratas estadunidenses.

E tem Samuel Xavier, o lateral-direito de gols mágicos e decisivos, o capitão Nino, 26 — convenhamos, precisa ser muito líder para se chamar Nino e ser o comandante —, o menino André, 22, volante moderno, área à área, tão maduro que aparenta ser o mais velho do elenco.

E tem Martinelli, e Marlon, e Lima, e Guga e Diogo Barbosa.

"Você não vai esquecer de Fernando Diniz, vai?", talvez tenham pensado as raras leitoras e os raros leitores tricolores.

É claro que não, mas antes vale citar outra constelação que tem o time das Laranjeiras no coração: Castilho, Nelson Rodrigues, Chico Buarque, Millôr Fernandes e Danilo Miranda; Jô Soares, Arthur Moreira Lima, Fernanda Montenegro e Ivan Lins; Telê Santana, Fred e Gilberto Gil.

Elenco do Fluminense campeão da Libertadores, em foto antes da final contra o Boca Juniors
Elenco do Fluminense campeão da Libertadores, em foto antes da final contra o Boca Juniors - Ricardo Moraes/Reuters

Ora, esse time tem 12! Doze? Tem muito mais. Tem Jobim. Tem Cartola, e não é dirigente, tem Letícia Spiller, Paulo Gustavo, tantos e tantos, como Lulu e até Dumont, Santos.

Se citar todos, faltará espaço para falar de Diniz.

Curto e grosso: o time dele joga à brasileira, como a seleção faz tempo não joga e nem com ele; dele só se exige, agora, que leve o Fluminense à decisão do Mundial de Clubes da Fifa contra o Manchester City, menos pelo time inglês, que é demais, mas para encontrar Pep Guardiola.

Finalmente, um apelo e uma constatação.

O apelo vai para Lionel Scaloni, o jovem e vitorioso treinador campeão mundial pela Argentina: convoque Cano para vestir pelo menos uma vez a camisa da seleção. Ele não brilha apenas no Campeonato Brasileiro. Brilhou no maior torneio do continente.

A constatação: você percebeu que o Fluminense tem seis jogadores titulares com mais de 34 anos? Está mais que na hora de denunciar o etarismo no Brasil como se faz com racismo, homofobia, xenofobia etc. Palavra de um jovem jornalista em início de carreira.

Viva o Flu!

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