Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Presidente da Fifa faz na flauta o que antecessores faziam com tacape

Infantino percebeu que cinismo é mais persuasivo que autoritarismo

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Giovanni Infantino, 53, é suíço-italiano, preside a Fifa desde 2016 e imagina permanecer no poder pelo menos até 2034, para abrir a 25ª Copa do Mundo na Arábia Saudita, do ditador esquartejador Mohammed bin Salman, 38.

Salman gosta de genocidas e é generoso com eles, como sabemos nós, os brasileiros.

Infantino é mais refinado, embora não menos ganancioso.

Faz com luvas de pelica o que o brasileiro João Havelange fazia de botas e o suíço Joseph Blatter com chicote.

O atual chefão da Fifa aprendeu com seus dois antecessores que o cinismo é mais persuasivo que o autoritarismo.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, em Sydney (Austrália), durante a Copa do Mundo feminina - Asanka Brendon Ratnayake/Reuters

Não se chama Giovanni por acaso, mais sonoro que João ou José.

Ricardo Teixeira, por sinal, chamava o sogro de Giovanni e só faltava acrescentar "Padrino" ou "Godfther", mas nem ele seria assim tão grosseiro e explícito.

Infantino conhece o jogo.

Viveu por anos nababescamente no Qatar, para quem vendeu a Copa passada.

E tratou de limpar o terreno com maestria para devolvê-la ao mundo árabe em apenas 12 anos, com intervalo de duas Copas.

Primeiramente era preciso atender a América do Norte, porque os Estados Unidos estavam insatisfeitos desde que foram preteridos, em 2018, pela Rússia, e acabaram sendo decisivos para a erupção do Fifagate.

Chance para contentar o México e o Canadá?

Pois Infantino contentou e os contemplou com a primeira Copa em três sedes. Viva!

Havia um problema, porém.

A Europa andava esquecida desde 2006 e para quem se acostumou, desde o século passado, ao regime de Copa sim, Copa não, uma no Velho Mundo, era preciso satisfazê-la.

Por que não em 2030, a do centenário?

Reconheçamos: sem tirar as luvas, Infantino lustrou a cabeça brilhante com golpe de mestre.

Com uma tacada só tirou seis países e três continentes da fila.

Abertura em Montevidéu, no estádio da primeira Copa, de sugestivo nome Centenário, mais um jogo na capital da terra de Lionel Messi e outro no Paraguai. Por que em Assunção? Ora, porque a América do Sul merece e os pobres agradecem quaisquer esmolas.

Foto em preto e branco mostra vista aérea do estádio Centenário, que está lotado
Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai, durante a Copa do Mundo de 1930 - Wikimedia Commons

Satisfeito o continente, que soma dez das 22 taças mais cobiçadas do Planeta Bola, Espanha e Portugal atenderão aos anseios europeus e… tcham, tcham, tcham, tcham: a África entrou na dança com a participação de Marrocos, pra lá de Marrakech! Ou na romântica Casablanca, quem sabe para Infantino tocar novamente sua flauta mágica.

De repente, muito mais que de repente, sobrou a Arábia Saudita.

Compra laranja, laranja, laranja, doutor/Ainda dou uma de quebra pro senhor!

TRISTE INSISTÊNCIA
Marcelo Izar Neves, filho de Gylmar dos Santos Neves, não se conformou com a sentença que absolveu este jornalista e o presidente da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa paulista, Adriano Diogo, e recorreu ao Tribunal de Justiça. Perdeu por 3 a 0.

Diogo relatou e o colunista publicou que o goleiro bicampeão mundial pela seleção e pelo Santos, ídolo do Corinthians e deste escriba, havia servido como despachante nos porões do DOI-Codi durante a ditadura.
Diogo passou três meses preso lá.

Sua denúncia, reforçada por três fontes, obrigou a publicação do que eu preferiria jamais noticiar.

Marcelo Izar Neves, condenado por insulto racial antissemita, sentença que serviu como gatilho para a coluna, preferiu trazer a mancha do pai de volta à baila.

Jornalismo dói também em jornalista.

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