Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

O calor desumano e o futebol

É obrigatório que a CBF mude os horários dos jogos à tarde em nome da saúde

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Como sabem os negacionistas que votam como votam, o aquecimento global é coisa de globalista.

Os dias que estamos vivendo ainda antes do verão, depois do inverno mais quente da História Brasil, tudo é conspiração dos termômetros, porque o mercúrio neles é álcool com corante, normalmente, tchan! tchan! tchan!… vermelho!

No último domingo (12), o Dérbi feminino, disputado às 11 horas da manhã –marcado pela FPF–, deveria ter sido proibido pela Associação Protetora dos Animais, pois os desumanos cartolas, em seus gabinetes refrigerados, não estão nem aí para a saúde das e dos atletas.

Jogadores como Yony González, do Fluminense, têm sofrido com as altas temperaturas no Campeonato Brasileiro - Ricardo Moraes - 11.nov.23/Reuters

Dos maiores crimes lesa-futebol foi praticado em 1994, nos Estados Unidos, pela Fifa, que queria conquistar os estadunidenses para o que eles chamam de soccer: marcou a decisão da Copa do Mundo para meio-dia, em julho, no estádio Rose Bowl, em Pasadena, no condado de Los Angeles, Califórnia, 40° à sombra, sol de rachar.

Brasileiros e italianos jogaram durante 120 minutos sem sequer marcar um gol no país que gosta de contagem altas.

As emoções ficaram todas por conta da disputa na marca do pênalti, na pior final de todas as Copas, exatamente o contrário do que se deu no tórrido Qatar, onde tanto a época do ano quanto o horário do jogo foram mudados: jogou-se em dezembro, às 18 horas e com ar-condicionado.

Resultado? 3 a 3, mais chutes da marca da cal, na melhor finalíssima de Copas do Mundo em todos os tempos.

Tudo isso para dizer que a CBF teve a sorte das datas Fifa para alterar os horários das rodadas finais do Campeonato Brasileiro.

Em nome da saúde dos jogadores e torcedores, porque o calor mata: segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 15 milhões de pessoas por ano. Há até especialistas que afirmam ser o calor mais letal que o frio.

Que a próxima rodada já atenda o bom senso, para a CBF evitar que se jogue em sua cara, e em sua conta, os versos de Paulo Mendes Campos, no poema "Vai da Valsa", que tem uma justificativa, dada pelo próprio autor: "Versos ingênuos, mas sinceros, que um jogador envia, por nosso intermédio, aos dirigentes de futebol que obrigam os profissionais a disputar as partidas mais sérias do campeonato num calor selvagem".

"Domingo, no jogo, que cansa, na dança, do fogo, ficaste de longe, bebendo gelado, sorvendo sorvete, jogado no tapete moderno, defronte a televisão; mas eu no inferno, na chama da grama, o craque, basbaque, driblava, suava, corria, sofria, mais que um cão. Quem dera que sintas as dores, calores que nunca sentiste! Quem dera que sintas! Não negues, não mintas… – Fugiste! Te digo que luto, que chuto, que passo, que faço, que esbaldo me esqueço me escaldo; te digo que brigo sem brisa, sem bicho, disputo capricho só por amor; mas queres que finto, requebre, requinte, me bata, rebata, que marque, que volte, que corte, que chute, dispute com este calor!? Quem dera que sintas as dores, calores, que nunca sentiste. Quem dera que sintas! Não negues, não mintas – Fugiste! Queria, cartola, te ver sem tevê, na chama, na grama, batendo na bola, correndo, gemendo, suando, gritando de espanto com tanto calor! Um só minuto que fosse, se tanto, queria te ver! Ah pobre cartola, rebola no fogo do jogo da bola! Eu juro que logo suado, cansado, gritavas por tua mamã: quem dera que jogues fumando charuto só esse minuto no Maracanã!"

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