Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Um domingo corintiano

Pela manhã, goleada das mulheres; à tarde, heroísmo dos homens. Enfim, alegrias

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Juca Kfouri

Nem o Fidelino, aquele corintiano que mora em Itaquera e não tem dinheiro para ir aos jogos do Corinthians, embora não desista de amá-lo com todas as forças, imaginária um domingo tão feliz, tão histórico, e de tamanho alívio.

Sim, ele sabia que as Brabas eram favoritas para chegar às finais do Paulistão porque, afinal, são as campeãs brasileiras e continentais e, além do mais, já haviam vencido as palestrinas no jogo de ida, como visitantes, por 1 a 0.

Mas Dérbi é Dérbi e a decisão da Libertadores tinha sido uma dureza de matar, 10 contra 11.

Corinthians campeão da Copa Libertadores feminina (21/10/2023)
Corinthians campeão da Copa Libertadores feminina 2023 - Rodrigo Gazzanel21.out.23/Ag. Corinthians

Quando o primeiro tempo terminou, ele, que estava no estádio, com preços módicos, entre os mais de 24 mil fiéis, já se dava quase por satisfeito com o 3 a 0 no placar.

Até perguntou para quem estava ao lado se seria três vira, seis acaba e pediram a ele que moderasse o apetite.

De fato, não foi.

Foi 8 a 0!

Mais que atropelamento, mais que massacre, uma página histórica no futebol de mulheres, daquelas que serão lembradas por décadas a fio.

Fidelino se deu ao luxo de comer um sanduíche de filé de gato na saída do estádio e ainda ao de beber uma cervejinha, mesmo menos gelada do que seria o ideal no calor monumental que fazia na cidade.

E saiu em busca de um bar em que pudesse ver, do lado de fora, a transmissão de Grêmio e Corinthians, porque seu aparelho de TV quebrou e ele não queria incomodar o vizinho, muito gentil, mas palmeirense e que poderia estar mal-humorado.

Fidelino se indignou com o pênalti não marcado em Matheus Bidu logo no começo do jogo e mais ainda com a expulsão de Bruno Méndez na sequência do lance.

Fosse marcado o penal, não haveria a expulsão, que considerou fazer sentido.

Ora, pensou ele, se Mano Menezes escalou o time com cinco zagueiros e deixou claro que estava em Porto Alegre em busca de um ponto, com dez jogadores tudo iria por água abaixo diante da legião estrangeira gremista, com nada menos de meia dúzia de jogadores argentinos, uruguaios e paraguaios em campo.

Campo, diga-se, bem-aventuradamente transformado em lamaçal pela chuva que castigava os gaúchos — e como sequela dos shows de música no estádio.

Para quem queria destruir era ótimo sinal —e Fidelino agradeceu a São Pedro, parceiro de São Jorge.

Romero comemora gol do Corinthians
Romero comemora gol do Corinthians - Diego Vara-12.nov.23/Reuters

Sentiu-se um eleito dos deuses dos estádios quando viu Lucas Veríssimo passar de cabeça para Romero fazer 1 a 0, aos 32 minutos.

O paraguaio jogava como verdadeiro Defensor del Chaco e Veríssimo, de sobrenome colorado, botava o pistoleiro Luis Suárez no bolso encharcado de água e suor.

Fidelino é escolado, tem casca dura, já viveu muitos domingos de dor e de alegria e, realista, quando o primeiro tempo terminou com a vantagem alvinegra, fez trato com São Jorge: "Se terminar empatado estará de bom tamanho".

Cá entre nós, rara leitora e raro leitor, se propusessem ao Mano ele também toparia.

Os 45 minutos finais não foram 45 minutos finais. Foram 56.

E sem Cássio nos últimos 31, porque se machucou e Carlos Miguel o substituiu.

Fidelino nunca teve dinheiro para ir à manicure e mesmo se tivesse não iria porque come todas as unhas duas vezes ou mais por semana ao torcer pelo Timão.

Pela manhã nem se lembrou que tinha dentes e unhas, tão fácil foi o Dérbi.

No encontro dos Mosqueteiros, porém, comeu-as todas, só faltaram as dos pés.

Time grande só cai uma vez, pensou. Ufa!

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