Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Houve o Lula treinador, o goleiro e tem o presidente, em quem adoram bater

Alguém precisa discordar, mesmo sob risco de ser visto como bajulador

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Preciso de uma desculpa para defender Lula aqui no pedaço do esporte.

Recorro a dois grandes Lulas, o técnico do Santos no auge, e o menos conhecido goleiro do Corinthians em fins de 1960, que substituiu o tricampeão Félix duas vezes na seleção.


Pronto! Aqui também se fala de futebol.

Dito isso, passemos ao mais famoso deles, o tripresidente.

Ele tem apanhado coisa que sirva nesta Folha, do editorial aos colunistas.

Alguém precisa discordar, mesmo sob risco de ser visto como bajulador.

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O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, na sede da União Africana, na Etiópia - Ricardo Stuckert/Divulgação

Como é gostoso bater no ex-metalúrgico que para ter título universitário precisou ser o de Doutor Honoris Causa —hoje já são quase 40 títulos—, da Universidade Federal de Pernambuco, onde nasceu, até a Universidade de Coimbra, em Portugal, ou de Salamanca, na Espanha, ou, ainda, na Sciences Po, de Paris.

Quando Lula disse que "o conceito de democracia é relativo" ao se referir à Venezuela, apanhou feito boi ladrão.

Embora pudesse chamar em seu auxílio o gênio Albert Einstein, que foi mais longe ao dizer que "nada é absoluto, TUDO é relativo", o presidente apanhou com méritos, porque defender Nicolás Maduro é dose.

Agora, então, ao ligar Hitler aos judeus sem tomar o cuidado de contextualizar com a delicadeza que o tema exige, levou pancada até mais não poder por aqui —e diga-se que, pelo mundo afora, com exceção do governo terrorista de Israel, a repercussão chegou perto de zero.

Holocausto houve um e ponto.

Lula não fez referência explícita a ele, mas nem precisa ser malicioso para tratar a fala como se o tivesse mencionado.

Genocídios sim, houve diversos na história da humanidade, e é inegável que num governo como o israelense, que abriga ministros capazes de dizer "Estamos lutando contra animais e agindo de acordo", como disse o da Defesa, Yoav Gallant, restam poucas dúvidas sobre seus desejos em relação a Gaza.

Há diferença entre quantidade e qualidade.

Seis milhões de mortos assassinados em campos de concentração é algo que jamais será esquecido e que nunca poderá ser citado de passagem.

Já o método de Bibi Netanyahu no campo de concentração a céu aberto que estabeleceu em Gaza pouco difere dos métodos nazistas. Sem gás.

Tivesse dito o humanista Lula que "Netanyahu está para os palestinos como Hitler esteve para os judeus" e os protestos estariam limitados aos bolsonaristas em busca de encobrir o depoimento de seu líder à PF nesta quinta-feira (22).

Sempre que se falar em cessar o morticínio em Gaza, haverá de se exigir a devolução dos reféns nas mãos terroristas do Hamas.

E parece mentira que cause mais indignação a frase infeliz que o parágrafo da magistral coluna de Dorrit Harazin, com depoimento da pediatra americana Seema Jilani:

"Ele tinha o braço e a perna direita arrancados por uma bomba. A fralda estava ensanguentada e se mantinha no lugar, apesar de não haver mais perna. Eu o tratei primeiro no chão, pois não havia macas disponíveis (...). A seu lado havia um homem emitindo os últimos respiros. Estava ativamente morrendo havia 24 horas, com moscas por cima (...) O bebê de 1 ano sangrava profusamente no tórax… Não havia nem respirador, nem morfina, nem medidor de pressão em meio ao caos. (...) Um cirurgião ortopédico envolveu com gaze os tocos da criança e comunicou que não a levaria de imediato para o centro cirúrgico porque havia casos mais urgentes".

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