Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Seleção Brasileira

De Neymar a Vini Jr., há esperança

O rosto da seleção muda do egoísmo ostentador para o do lutador por causa nobre

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Que a seleção brasileira sofre há muito de desamor e falta de vínculos com a torcida é sabido.

Os motivos são variados, e a participação de Neymar nisso é notória, principalmente entre os setores mais esclarecidos da sociedade.

Fosse ele um jogador solidário na seleção, alguém que jogasse coletivamente, sem a marca do cai-cai desde a Copa do Mundo na Rússia, as preferências fora do campo dele talvez passassem ao largo.

Neymar impôs seu modo egoísta de ser, submeteu Tite à sua dependência e protagonizou cenas lamentáveis como número 1 do time da CBF, em manifestações explícitas de novo-riquismo babaca e brega, ostentatório. Nada mais ridículo e revelador da pobreza interna do que a exposição da riqueza externa.

Vinicius Junior, a par de ser excelente jogador, não ainda do nível de Neymar, abraçou de corpo e alma a luta antirracista, a ponto de levar à condenação três cretinos espanhóis em Valência.

E cunhou a frase do ano: "Não sou vítima de racismo; sou algoz de racistas".

Os atacantes brasileiros Neymar (L) e Vinicius Jr participam de treino no estádio Arena Pantanal, em Cuiabá, Brasil, no dia 10 de outubro de 2023, antes dos jogos das eliminatórias da Copa do Mundo da FIFA 2026 contra Venezuela e Uruguai
São notórias as diferenças entre Neymar e Vinicius Junior - Nelson Almeida - 10.out.23/AFP

Neymar, lembremos, chegou a dizer, em 2010, que jamais havia sofrido com a questão racial ("até porque não sou negro"), embora anos depois tenha tomado atitudes menos alienadas em relação ao problema e se reconhecido negro em 2020.

Algodão entre cristais, nunca assumiu a luta antirracista, ao preferir fazer pregações marqueteiras pela paz.

Vini Jr., não. Fez da causa razão de ser, incansável, e virou referência mundial sobre o tema do racismo.

Sem que necessariamente uma coisa tenha a ver com a outra, resta agora assumir papel de relevância na seleção, à altura de sua capacidade técnica.

Até hoje não foi de amarelo o que é de branco, também porque, na Copa no Qatar, ficou exilado na ponta esquerda, para marcar laterais, como se não pudesse rivalizar com Neymar, o dono do time.

Contra a Croácia, 0 a 0 no placar, Tite o trocou por Rodrygo, aos 64 minutos, privando o time de seu talento decisivo em partida com prorrogação.

Carlo Ancelotti deve ter puxado os cabelos quando viu a substituição.

Para que Vini floresça, será preciso dar a ele as condições que tem no Real Madrid, e por aí passará a difícil, e improvável, decisão de Dorival Júnior em prescindir de Neymar, que tampona o madridista.

Felipão fez isso em 2002 com Romário, e deu certo.

Curioso como o futebol muda em poucos anos.

Em 2010, Dunga errou redondamente ao não levar Neymar e ficou sem alternativa ao procurar alguém no banco para tentar reagir diante da Holanda. É célebre a cena do treinador de braços abertos olhando para Jorginho, ambos impotentes, porque não tinha ninguém de truz para entrar.

Desejado em 10, vitimado em 14, ridicularizado em 18 e eliminado em 22, Neymar chega a 2024 como indesejado para a renovação necessária à seleção.

Neymar é o retrato de um tempo a ser esquecido, sombrio, triste, individualista, deprimente mesmo.

Vini é a esperança de redenção, de liderança positiva, coletiva, de alguém que sabe ser o futebol mais que um jogo, uma imitação da vida.

Ele não tem as características do "uomo-squadra", como definem os italianos, mas, de tão decisivo, pode ser protagonista se bem utilizado e servido.

Veremos na Copa América se o ex-menino do Flamengo terá as condições para ser o que é em seu clube, onde teve papel fundamental na conquista da Champions League.

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