Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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As Olimpíadas das mulheres

Nas redes antissociais, tamanho sucesso das brasileiras incomoda os misóginos

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Como fartamente anunciado, dos 276 atletas brasileiros em Paris, 153 são mulheres, 55% da delegação.
O que até justificaria a mudança dos artigos nesta abertura de coluna: das 276 atletas brasileiras em Paris, 123 são homens, 45% da delegação…

E o maior número de medalhas conquistadas pelo Brasil é delas: das 13, ganharam 9. As duas de ouro, também, de Rebeca Andrade e Beatriz Souza.

Em Tóquio, três anos atrás, a delegação nacional levou 47% de mulheres, e elas trouxeram 9 das 21 medalhas.

Rebeca Andrade comemora medalha de ouro conquistada na competição de solo
Rebeca Andrade comemora medalha de ouro conquistada na competição de solo - Mike Blake/Reuters

Ainda há chances de, nos esportes como futebol, vôlei e vôlei de praia, mais mulheres trazerem mais medalhas, sendo certo que ao menos a prata virá para Marta & cia.

O quanto tamanho sucesso incomoda os misóginos a rara leitora e o raro leitor encontrarão nas redes antissociais, assim como os racistas que implicam com a simples referência às mulheres negras vencedoras.

Aqui faço pequena pausa para um testemunho pessoalíssimo: houve um momento em minha vida profissional que, com exceção da ESPN, onde o chefe era José Trajano, na Folha, no UOL e na CBN minhas chefias eram todas chefas; Eleonora de Lucena no jornal, Márion Strecker na internet e Marisa Tavares na rádio. E não tenho nenhuma queixa, muito ao contrário.

Antes que alguém venha com a baboseira de sexismo reverso, como há os idiotas do racismo reverso, é bom frisar que a bem-sucedida presença feminina nada tem contra os homens —do mesmo modo que sublinhar a façanha dos negros não implica em ser contra os brancos.

Trata-se, apenas, de dar espaço a quem sempre sofreu discriminação e hoje ocupa cada vez mais os lugares que merecem e que lhes era negado.

Até porque as seleções brasileiras que mais longe chegaram em Paris são dirigidas por dois homens —o melhor treinador da história do vôlei, José Roberto Guimarães, e o competentíssimo Arthur Elias.

Ver e ouvir as entrevistas das medalhistas, ou das ainda candidatas às medalhas, estabelece escandalosa diferença para o que se vê e ouve dos atuais jogadores da seleção brasileira de futebol.

Talvez por não estarem milionárias, e também nada contra quem fica milionário à custa de seu trabalho honesto e ético, o tom das jogadoras semifinalistas do vôlei, e das finalistas do futebol, é o de quem deseja a medalha olímpica como a coroação do trabalho em equipe, sem um pingo de arrogância e com muita, mas muita simpatia.

Enfim, a semana vai terminando e, com ela, as Olimpíadas, que já deixam saudade, embora ainda faltem algumas emoções.

Como ficarão vazios os nossos dias sem provas das cinco horas da manhã até as sete horas da noite!
Sim, é claro, temos o futebol do Campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil e da Libertadores para nos entreter.

Mas e o sorriso da Rebeca, o choro vitorioso da Bia, a marcha do Caio Bonfim, que, ao não perder o rebolado, deu ele também uma lição aos preconceituosos?

Torcida ideológica

O Brasil anda precisando se reencontrar com o Brasil.

O que teve de gente torcendo contra a Marta, ou contra a Carol Solberg, por identificá-las com a esquerda foi uma grandeza e nisso a direita brasileira é de uma pobreza franciscana.

À esquerda, e ainda bem, não se viu torcida contra Gabriel Medina.

Ao contrário, o que se ouviu foram críticas às regras do surfe que o puniram por falta de ondas. Tenha dó.

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