Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juliano Spyer

Quem ocupará o posto de candidato dos evangélicos na eleição de 2026?

Ex-presidente angariou lealdade de históricos e pentecostais em 2018 e 2022

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A tarefa de Bolsonaro não foi simples. Para quem olha de fora, o mundo evangélico parece ser homogêneo, mas, na verdade, ele é como um Frankenstein de tradições e linhagens do protestantismo que nem sempre têm boas relações entre si. Será que outros políticos conseguirão angariar o mesmo tipo de lealdade que o ex-presidente obteve desse grupo nas eleições de 2018 e 2022? E o que precisam fazer para atingir esse propósito?

Consultei o pastor Sérgio Dusilek, ex-presidente da Convenção Batista Carioca (CBC), para entender por que igrejas evangélicas pentecostais e históricas atuaram de maneira coordenada para apoiar Bolsonaro. Resumo os argumentos dele a seguir, mas, antes, explicarei rapidamente como evangélicos pentecostais e históricos, os maiores grupos, são diferentes.

O evangélico pentecostal é predominantemente preto e pobre; o histórico é principalmente branco e das camadas médias e altas. A religiosidade pentecostal é encantada, "mágica"; inclui profetização, falar em línguas e incorporações. A igreja histórica é erudita e cerebral e os cultos são discretos. E há desconfiança entre eles: históricos desdenham a escolaridade baixa dos pentecostais; e estes acusam os históricos de terem uma fé fria, que, por isso, se afastou de Deus.

Apesar desse cenário complexo, quase 70% dos eleitores evangélicos escolheram o mesmo candidato em 2018 e 2022. Para Sérgio Dusilek, há quatro motivos maiores para explicar isso:

1 - Evangélicos históricos e pentecostais (incluindo neopentecostais) vêm se aproximando, por vertentes diferentes, do fundamentalismo de inspiração neocalvinista. Ao defender as pautas morais, o ex-presidente ganhou a atenção desses campos.

2 - A defesa aberta do conservadorismo moral atraiu a atenção da Global Kingdom Partnership Network (GKPN), uma organização norte-americana de direita, que atuou para ajudar a costurar alianças do ex-presidente com lideranças midiáticas e com representantes das igrejas mais influentes do país.

3 - Bolsonaro também deu protagonismo sem precedentes a evangélicos que sofrem com a síndrome do patinho feio. Entre 2018 e 2022, líderes desse grupo passaram a acompanhar regularmente o presidente em viagens oficiais e eram recebidos pela porta da frente dos palácios do Planalto e da Alvorada.

4 - Finalmente o ex-presidente estabeleceu uma relação pragmática com essas lideranças e denominações, encontrando meios para repassar verbas para essas organizações atuarem.

Estou curioso para descobrir quem disputará esse lugar de "candidato dos evangélicos" em 2026.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.