Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu machismo

Feministas que defendem o direito das mulheres no mundo evangélico

Debate sobre relações de gênero nas igrejas é mais complicado do que parece

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A bancada feminina do Senado está avaliando nomes para homenagear com o diploma Bertha Lutz. A distinção é oferecida anualmente a quem atua defendendo os direitos de mulheres no Brasil. A historiadora livre-docente da UFMG Heloísa Starling, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e a empresária Luiza Trajano foram algumas das agraciadas em 2022.

Por causa da pré-seleção de candidatos para receber o diploma Bertha Lutz, pedi para evangélicas e evangélicos sugerirem nomes de quem atua em suas comunidades de fé na defesa do direito das mulheres. As pessoas apresentadas a seguir foram os recomendados por vários desses interlocutores.

A pastora Odja Barros (@odjabarros), da Igreja Batista do Pinheiro em Maceió (AL), se apresenta pelo Instagram como uma "feminista da Bíblia". Ela foi ameaçada de morte em 2021 por ter realizado um casamento homoafetivo. Na ocasião, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) publicou uma nota em apoio a Odja, dizendo que a sua atuação na promoção e na defesa dos direitos humanos é reconhecida internacionalmente.

A pastora Odja Barros, da Igreja Batista do Pinheiro, de Maceió (AL)
A pastora Odja Barros, da Igreja Batista do Pinheiro, de Maceió (AL) - @odjabarros no Instagram

Outro nome mencionado várias vezes é o de Valéria Vilhena. Fundadora do grupo Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG), ela se apresenta como pentecostal, mãe e pesquisadora de temas que relacionam gênero, religião e violência. Criado em 2015, o EIG (@mulhereseig) reúne fieis que combatem a violência contra mulheres em suas igrejas e na sociedade.

A pastora luterana Lusmarina Campos Garcia (@lusmarinacg) atua em projetos relacionados a HIV/Aids, violência urbana, justiça de gênero e intolerância religiosa. Na década passada, ela levantou R$ 12 mil para ajudar a reconstruir o terreiro da Mãe Conceição D'Lissa, em Duque de Caxias, no Rio, vítima de oito atentados. Suspeita-se de que os autores dos ataques sejam evangélicos motivados por intolerância religiosa.

Finalmente me indicaram a advogada Iza Vicente (@izavicent), especialista em direitos humanos e única mulher atuando hoje como vereadora no município de Macaé, no estado do Rio. No Twitter ela se apresenta como "uma jovem mulher negra evangélica". Além do cargo no Legislativo, ela faz mestrado no campo da administração pública na FGV.

O debate sobre relações de gênero nas igrejas é mais complicado do que parece. A mulher crente é frequentemente descrita como sendo "recatada e do lar", ou seja, como alguém que se submete à autoridade masculina e reproduz a ideia de que mulheres e homens têm papeis diferentes na sociedade.

Mas a predominância das mulheres no mundo evangélico sugere que igrejas, especialmente em bairros pobres, promovem formas de protagonismo feminino indisponíveis em outros espaços. A Casa Mãe, por exemplo, foi criada por uma evangélica para assistir mães de adolescentes presos no Rio.

Mas a assimetria entre as responsabilidades de mulheres e homens em igrejas frequentadas por evangélicos mais abastados produz mais incômodo. "Gosto muito de saber que há espaços eclesiásticos nos quais feminismo e evangelicalismo não são incompatíveis," me disse uma interlocutora, mas "na minha realidade, infelizmente ainda são."

Nesses contextos, a indicação de nomes como os listados acima poderá oxigenar o debate sobre machismo nas igrejas.

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