Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu machismo

Casos reais sobre religião e feminismo fogem das cartilhas

Evangélicas de classe média levam debate sobre direitos das mulheres para igrejas

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Recebi na semana passada mensagens de três evangélicas contando suas vivências na fronteira entre a religião e o feminismo. São casos narrados por mulheres advindas das camadas médias e altas, com títulos universitários e ligadas a igrejas históricas. Leia cada um a seguir.

Ingratidão: "Hoje sou uma espécie de mula sem cabeça para a comunidade da igreja que eu frequentei por 20 anos como esposa de pastor —e por muito mais tempo como membro. Mas a minha carreira ficou incompatível com a vida de esposa de pastor. Ao me separar, perdi toda a rede de amizades ligada à igreja, pessoas que acolhi em casa, ajudei, vesti seus entes queridos quando morreram, ensaiei coral, cuidei dos filhos. Nunca mais me cumprimentaram nem perguntaram se meus filhos e eu estávamos bem, se tínhamos contas para pagar. Foi como se a minha realidade estivesse costurada e, de repente, alguém puxou um fio…"

Evento para mulheres na igreja Assembleia de Deus, na Penha, no Rio de Janeiro - Zo Guimaraes/Folhapress

Faz de conta: "Na igreja em que cresci, o que mais vejo são mulheres empoderadas que interpretam personagens de mulheres submissas aos maridos. Em casa elas têm voz, mas na igreja elas reforçam o discurso de que a mulher é a rainha do lar e que seu papel maior é o da maternidade. É como se ali não existisse quem prioriza a vida profissional ou tenta conciliar maternidade e carreira. Todo mundo sabe que isso existe, mas esse lado da vida das mulheres fica silenciado na igreja. Ouço piadas machistas e fico procurando interlocutoras para falar sobre o meu incômodo, mas vejo as mulheres rindo junto. Sei que outras sentem o mesmo que eu, mas é difícil nos manifestarmos ali."

Fé vs. Razão: "Participei recentemente de um grupo de leitura e estudos feministas. Durante o encontro, uma das integrantes apresentou um vídeo de mulheres de uma igreja neopentecostal repudiando o feminismo. Daí essa participante concluiu ser impossível conciliar cristianismo e feminismo, e várias outras presentes concordaram. Me posicionei dizendo que aquilo era absurdo, que eu sou cristã, teóloga e feminista. Elas nunca tinham nem ouvido falar da teologia feminista. Foi tão decepcionante que abandonei o grupo. Depois me lembrei de amigas que disseram que grupos feministas têm dificuldades em lidar com feministas cristãs. Mas se eu tiver que abdicar da minha fé para estar nesse grupos, não vou participar."

As autoras desses relatos pediram ajuda a outras mulheres e não foram atendidas, nem dentro nem fora de suas comunidades de fé. Apesar disso, é nas igrejas históricas que evangélicas estão mais dispostas a criar pontes para defender os direitos das mulheres. Talvez mais até do que as feministas que não são cristãs.

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