Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juliano Spyer
Descrição de chapéu LGBTQIA+

Até quando a Lagoinha Church continuará 'no armário'?

Apesar de André Valadão, a megaigreja fundada em BH resiste à aliança com o fundamentalismo de direita

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Juliano Spyer

Antropólogo, é doutor pela University College London e autor de “Povo de Deus - Quem são os evangélicos e por que eles importam” (ed. Geração 2020)

Na semana passada, o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira fez uma insinuação: "Foi Jean Wyllys que fez isso? Foi o PSOL, foi o Lula?[...] Mas não foi ele. Isso aqui está relacionado a uma igreja gigantesca do Brasil. Eles têm um culto específico para homossexuais."

Sites evangélicos publicaram que Nikolas se referiu à Lagoinha Church, liderada por André Valadão, o pastor pop que vem aumentando suas provocações à comunidade LGBT. É nessa igreja que atua o Movimento Cores, cuja missão é "levar Jesus aos LGBTQIA+".

A Lagoinha é uma das igrejas mais conhecidas no campo evangélico brasileiro, com cerca de 700 templos. Sua popularidade se deve, em grande parte, ao espetáculo dos cultos, que são como grandes produções artísticas, atraindo fiéis com maior escolaridade e renda, especialmente os jovens.

Fiéis durante culto da igreja evangélica Lagoinha Church, em Belo Horizonte - Douglas Magno/AFP

O Cores existe há quase dez anos e suas atividades são registradas por meio de vídeos e fotos nas redes sociais. O grupo expressa sua identidade pelo nome (Cores), que faz referência ao arco-íris, símbolo do movimento LGBT. O que permanece oculto, no entanto, é a relação entre o Cores e a Lagoinha.

Embora a Lagoinha seja competente e sofisticada em sua comunicação, é difícil, talvez impossível, encontrar qualquer menção ao Movimento Cores em seus perfis online. Portanto, se o grupo existe e não é reconhecido publicamente, é possível dizer que a Lagoinha está "no armário"? E por que uma célula LGBT sobrevive em uma igreja cujas lideranças famosas afirmam repetidamente que cristianismo e homossexualidade são incompatíveis?

Priscila Coelho, a pastora que fundou e lidera o Cores há quase 10 anos, tem dreadlocks no cabelo e tatuagens coloridas nos braços. No caso dela, o estilo não parece ser um esforço de marketing. Ela também não esconde a complexidade de suas origens: família pobre e periférica, problemas com o pai pastor, um caso de estupro aos 5 anos, envolvimento com o crime na adolescência e, atualmente, a escolha pelo celibato como pessoa LGBT assumida.

Talvez tenha sido a determinação de Priscila em se mostrar imperfeita e humana que convenceu o pastor Márcio, patriarca do clã dos Valadão, a apoiar a criação de um grupo LGBT na Lagoinha.

Considerando esse contexto, a indireta de Nikolas para expor o "culto para homossexuais" parece ter menos a ver com sexualidade, e sim com o simbolismo associado ao Cores. A Lagoinha, agora liderada por André Valadão, vem se projetando como uma organização aliada da direita e do fundamentalismo.

Mas o Cores desafia essa narrativa e expõe que outras lideranças resistem ao pastor presidente, e defendem que a igreja seja aberta para a sociedade, independente de classe, gênero e da posição política.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.