Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juliano Spyer

Evangélicos ignoram o caso Marielle, por quê?

Fundamentalistas veem a homossexualidade como aberração que deve ser exterminada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Por que evangélicos estão em silêncio sobre as últimas revelações do caso Marielle? Ela foi assassinada por milicianos que supostamente fizeram parte do círculo social do clã Bolsonaro, e cerca de 70% dos votos válidos de eleitores evangélicos foram para o ex-presidente. Seria esperado que essa escolha estivesse sendo debatida em púlpitos, encontros presenciais e grupos de WhatsApp.

Mas o silêncio é generalizado entre evangélicos, de progressistas a conservadores, de influenciadores com milhões de seguidores até pessoas comuns. "Nas redes sociais, sigo personalidades, colegas, pessoas da minha igreja e também amigos, e o silêncio é total", nota a cientista social Carla Ribeiro Sales, que é batista.

Crianças durante homenagem na estátua da vereadora Marielle Franco que foi morta em 14 de março de 2018 - Eduardo Anizelli/Folhapress

Evangélicos em geral têm evitado falar sobre política por vários motivos. Após a eleição, muitos concordaram que Lula venceu pela vontade de Deus, portanto, o correto seria cessar as críticas e orar por ele. A participação de grupos cristãos nos ataques de 8 de janeiro gerou uma mistura de vergonha e constrangimento. E o silêncio se tornou quase absoluto quando o ex-presidente foi declarado inelegível.

Esse distanciamento do debate político também resulta do cansaço depois dos confrontos, ofensas e rupturas ocorridos dentro das igrejas durante a campanha eleitoral de 2022.

Um pastor que foi perseguido por não apoiar Bolsonaro disse sobre o caso Marielle: "É um assunto que prefiro não explorar na comunidade agora, por causa das muitas feridas que ainda estão abertas."

A pastora Priscilla Coelho, que lidera um movimento de pessoas LGBT cristãs, relata mais um motivo de silêncio de evangélicos em relação ao caso Marielle.

"A deputada (trans) Duda Salabert, aqui de BH, recebe ameaças de fundamentalistas dizendo que ela é uma praga e uma abominação e que Deus precisa exterminá-la para purificar o país. Por isso, vemos que fundamentalistas aprovam silenciosamente o extermínio de uma mulher lésbica, esquerdista, negra e periférica como Marielle."

Evangélicos bolsonaristas debatem dentro de círculos de confiança e atacam o presidente Lula e o PT. "Na minha igreja, o povo acredita que (o caso Marielle) é armação," confidenciou uma interlocutora nordestina, pobre e pentecostal. "Descobriram que o assassino de Marielle é um ex-assessor do (nome de um deputado federal do PT do Rio), então, o caso agora será encerrado," relata essa interlocutora, que já não assiste TV aberta e se informa por mensagens via WhatsApp. "O que Bolsonaro faz vira lei e cadeia, e Lula, que fez pior, está livre e é presidente. É perseguição," ela conclui.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.