Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu casamento

Tabu do divórcio ainda vale para pastores

O drama de pastores que mantêm casamentos para não perder a remuneração

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Pastores evangélicos e suas famílias continuam a ser vítimas de uma situação perversa. Aqueles que atuam exclusivamente em suas igrejas precisam da remuneração da igreja para manter a família, mas também precisam da família para manter a remuneração da igreja. Isso vira um problema quando o casamento fracassa.


O divórcio deixou de ser um tabu para fieis evangélicos, mas a restrição continua a valer para muitos pastores e pastoras. "A visão da comunidade evangélica sobre a separação de seus líderes costuma ser simplista e moralista", explica o pastor presbiteriano Daniel Guanaes, que é psicólogo. "O raciocínio é: se a família é o projeto mais importante de Deus na vida das pessoas e o pastor não consegue manter sua família unida, ele também não tem autoridade para conduzir a vida dos membros da igreja."

A consequência do divórcio para o pastor assalariado é perder sua fonte de renda. "Então, muitas vezes, essas pessoas preferem viver em uma relação que já não existe, ou mesmo em uma relação infernal, a assumir que fracassaram", conclui Daniel.

"Infelizmente essa situação é relativamente comum no nosso meio", conta o pastor pentecostal Alexandre Gonçalves. "Para não perder a remuneração, o pastor consolida seu ministério na igreja à custa do desmoronamento da família." Como a situação não tem saída fácil, Alexandre recomenda a quem pretende seguir essa vocação: "Faça primeiro uma faculdade para ter uma profissão".

Mãos de uma pessoa idosa removem uma aliança dourada de casamento do dedo anelar da mão esquerda
Getty Images/via BBC News Brasil

Há um aspecto irônico nesse assunto: o casamento fracassa também por falta de cuidado de quem não tem coragem —ou dinheiro— para pedir ajuda ou não reserva tempo para cultivar a relação. "Esse esfriamento não ocorre no vazio", diz o pastor e terapeuta Zenon Lotufo Jr. "É mais difícil consertar as coisas quando se chegou a essa ‘mornidão’ do que quando há conflitos manifestos."

E o vazio emocional dá margem para que relacionamentos paralelos, como os noticiados a mancheia por sites de fofoca, como o popular Fuxico Gospel.

Para quem está fora das igrejas, pastores geralmente são vistos como milionários donos de jatinhos. Essa imagem também é distorcida dentro das igrejas. Lá são vistos —e se apresentam— como super-heróis infalíveis. Das duas imagens, talvez a mais prejudicial para evangélicos seja a segunda.

Essa realidade não se aplica a todas as denominações. Principalmente em igrejas históricas, o pastor fica casado porque precisa do trabalho, mas, por isso, atua a comunidade sem acreditar no que faz. E esse é um drama menos debatido nas igrejas do que, por exemplo, as situações em que acontecem abusos.

Porque casamentos de fachada em geral não tem culpados óbvios, apenas vítimas.

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