Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Legalizar o uso da Cannabis é uma pauta de Jesus?

A advogada Patricia Villela Marino quer desconstruir a ideia de que essa é a planta do diabo

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Bati em muitas portas em busca de evangélicos que defendem publicamente o uso medicinal da Cannabis. E recebi duas respostas. Uma parte das pessoas dava de ombros, achando que cristianismo e maconha são temas que não andam juntos. Ou elas me apontavam para a presidente do Instituto Humanitas360, Patricia Villela Marino. E é fácil entender o motivo: para ela, debater sobre a Cannabis "é uma pauta de Jesus entre nós, porque ela exige a superação de muito repertório, de muita religiosidade e de muito farisaísmo." No idioma bíblico, farisaísmo é sinônimo de hipocrisia.

mulher com cabelos longos loiros, vestida de branco, olha para o lado com leve sorriso
Patrícia Villela Marino, advogada e ativista cívico-social, lidera o Instituto Humanitas 360 - Lucas Barreto / Humanitas360

Patrícia cresceu em um ambiente familiar conservador em termos de costumes. "Desde a infância, aprendi que skatista era maconheiro, surfista era maconheiro e se tinha tatuagem, então, era super maconheiro." Mas ela começou a rever essa perspectiva quando os amigos Tarso Araujo e Raphael Erichsen pediram sua ajuda para finalizar o documentário "Ilegal - A vida não espera", sobre famílias que lutam pelo direito de usar a Cannabis para lidar com doenças sem alternativas melhores de tratamento.

Quando o filme estava sendo finalizado, em 2013, Patrícia tinha se tornado mãe depois de mais de uma década de luta contra a infertilidade. "Ter o meu filho foi muito difícil, mas foi uma bênção ele ter nascido saudável. Mas as mães que conheci pelo documentário não podiam tomar banho porque suas crianças tinham 30 convulsões por dia," ela contou. "A minha escassez me conectou com a escassez delas."

Patrícia não é favorável ao uso recreativo da maconha, especialmente para adolescentes, mas sua atuação inclui promover o debate sobre o uso medicinal dentro de círculos evangélicos. "Se nós acreditamos que Deus criou todas as coisas, por que ele deixaria uma planta para o demônio?", ela questiona. "Ainda mais uma planta com essa capacidade terapêutica, que se torna um remédio necessário para quadros agudos de epilepsia, para Alzheimer, Parkinson, até para condições de dor crônica?"

Patrícia recorreu à ciência para rever seus preconceitos e hoje leva esse debate para espaços como a bancada evangélica no Congresso Federal. Ela também participou da elaboração do projeto para a distribuição do canabidiol pelo SUS, que se tornou lei sancionada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Há um perfil de evangélicos —ouso dizer, até mais de evangélicas— que, como Patrícia vêm do conservadorismo e que hoje se distanciaram dele. Elas falam o idioma da religião e defendem a ciência e causas ligadas a direitos humanos. E fazem isso em espaços em que vozes progressistas não chegam. Elas não representam todos os evangélicos, mas em um país dividido, seu engajamento ou distanciamento de candidaturas pode definir quem vencerá as próximas eleições.

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