Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Acampamentos para jovens evangélicos são abadá de Deus

Organizadores repetem que namorar não é o propósito desses eventos, mas também é

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Enquanto alguns brasileiros caem na folia, evangélicos se isolam em acampamentos religiosos. Mas, para os frequentadores, é um segredo guardado à luz do dia que estes retiros têm um quê de carnaval.

"A paquera é um dos objetivos últimos dos retiros para jovens", confidencia Paloma Jaqueta, que é evangélica e antropóloga. "Para ser bem sincera, não consigo pensar em outro motivo para eles acontecerem." Isso porque famílias evangélicas desejam que seus filhos e filhas encontrem pretendentes entre pessoas da mesma religião, da mesma tradição cristã e —se tudo der certo— da mesma igreja.

Ensaio da bateria da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Penha zona norte do Rio
Ensaio da bateria da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Penha zona norte do Rio - Tércio Teixeira - 15.fev.23/Folhapress

Os pais do teólogo e historiador André Reinke se conheceram em um retiro e ele também conheceu sua futura esposa nessa situação. "O propósito principal desses encontros não é namorar, mas, no final das contas, todo mundo sabe que é o melhor lugar para se encontrar alguém", relata.

Para o pastor assembleiano Wilian Gomes, aproximar casais é parte das atividades dos retiros. Sua igreja, em Brasília, está reunindo cerca de 3.000 jovens durante o Carnaval. "A gente até anuncia no microfone: 'Quero apresentar aqui este jovem, ele está solteiro!' Daí vem aquela comoção, uma risada geral".

Talvez você esteja imaginando jovens sendo forçados a ir a retiros, o que está longe de ser verdade. "Eles fazem de tudo para participar", relata o pastor Guilherme Damasceno, que cresceu participando dessas atividades. "Durante meses eles vendem panos, feijoada ou lanches para juntar dinheiro". É que, para muitos, esses eventos são oportunidades para se viajar e viver experiências novas. "Tem piscina, jantares temáticos... Me lembro de quatro jovens que viram o mar pela primeira vez."

Evangélica pentecostal e professora universitária, Andrea Alechandre já foi a acampamentos para jovens e, hoje, é palestrante. "A intenção desses encontros é mostrar que Deus não é uma lista de 'não pode'. Que é possível brincar, se divertir, estar feliz sem droga nem bebida."

Não é absurdo comparar esses eventos religiosos com o Carnaval brincado usando abadás. Esse item permite ao folião (que pode pagar por ele), a oportunidade de participar do carnaval de rua de Salvador em ambientes cercados e controlados. Em círculos evangélicos, ouvi algumas pessoas descreverem retiros e acampamentos usando termos parecidos: é um carnaval "light", protegido.

Insistimos em estereotipar evangélicos como ultraconservadores. Mas, no Carnaval, cada um faz o que quer: uns fogem para a praia, outros assistem a desfile, alguns preferem bloquinhos. E há os que brincam sem se sentirem cobrados porque não bebem nem mostram tanto o corpo.

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