Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Malafaia está forçando a barra para ser preso?

Pastor parece encurralado e disposto a assumir riscos para disputar espólio de Bolsonaro

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"Alexandre de Moraes tem de tomar um impeachment e ser preso, pelo bem da democracia!" É por causa de declarações como esta, feita em vídeo na semana passada, que alguns evangélicos se perguntam se o pastor Silas Malafaia está forçando a barra para ser preso. Ou se ele acredita que sua popularidade o blinda para atuar como agitador antidemocrático.

Há vários motivos para Malafaia atacar Moraes publicamente. Ao fazer isso ele demonstra lealdade a Bolsonaro, que, em 2022, em encontro com pastores, disse: "Eu dirijo a nação para o lado que os senhores desejarem". Essa disposição para proteger o ex-presidente enquanto outros se escondem o posiciona como um dos herdeiros do espólio político de Bolsonaro.

Silas Lima Malafaia em 2016 - Renato Araújo/ Câmara dos Deputados

Mas Malafaia também pode estar lutando para sobreviver. Carlos Viana, senador líder da bancada evangélica, criticou recentemente o governo federal por utilizar instituições, como a Receita, para atacar desafetos. Malafaia pode se sentir encurralado e mais disposto a ir para o tudo ou nada, assumindo riscos ainda maiores se sua igreja e editora continuam devendo ao Fisco, como noticiou o UOL em 2021.

Malafaia projeta a imagem de que é um grande porta-voz do campo evangélico. Sua marca como evangelista é dizer o que muitos pensam mas não têm coragem de falar publicamente. Seu programa de TV está no ar há 38 anos e seus perfis nas redes superam 10 milhões de seguidores. Mas ele também é um personagem polêmico entre cristãos. Em igrejas históricas, ele é visto como alguém que prioriza conquistas financeiras. E pentecostais frequentemente o criticam por ser mais político que pastor.

"Malafaia nunca conseguiu se eleger ou eleger quem ele apoia para o cargo de presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus", explica Marcos Simas, que foi editor-chefe no Brasil da Christianity Today, uma publicação respeitada no meio evangélico. "Ou seja, não tem essa força toda dentro da própria denominação." Na década passada, Marcos publicou o artigo: "Silas Malafaia, a quem ele representa?".

Por causa dessa popularidade contestada, Malafaia precisou se retratar na semana passada depois de anunciar que usaria recursos de sua igreja, oriundos da coleta de dízimos, para alugar um trio elétrico para o ato de apoio a Bolsonaro, marcado para o fim do mês em São Paulo.

Mesmo assim, talvez Malafaia nunca tenha concentrado tanto poder. Enquanto muitos defensores do ex-presidente medem palavras, ele provoca abertamente o todo-poderoso ministro do STF. Moraes deve saber que uma eventual prisão despertará o senso corporativo dos evangélicos. E o pastor Silas será alçado a um patamar semidivino entre cristãos: o de mártir perseguido.

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