Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

Pouco se falou sobre os 60 anos do 1º título mundial do basquete brasileiro

Brasil foi campeão mundial de basquete em 31 de janeiro de 1959

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As efemérides me encantam. Datas marcam fatos importantes, tanto quanto os vincos que se formam em nosso rosto apontando para a passagem do tempo. Há paliativos como cremes, toxinas, maquiagem que disfarçam, mas jamais apagam essas marcas. E a depender do produto, ou do profissional que o aplica, evidencia ainda mais aquilo que se quer apagar.

O tempo não é como o mar, cujas ondas anunciam um ir e vir infinito e as marés oscilam com a lua. Aquela imensidão que foge aos olhos e já levou os antigos a crerem que a Terra é plana. Que tolice! O tempo é como o rio que corre sempre para a frente, em direção a alguma coisa. Tem margens definidas que podem ter a largura de um salto ou os tantos quilômetros que levam a vista não encontrar o fim, guardando vidas e histórias. O que é certo é que ele corre, mais lento ou mais rapidamente, sempre em busca de algo. Suas margens limitam sua passagem e essa é sua única fronteira.

Quem trabalha com memória sabe apreciar cada um dos elementos que compõe uma história, assim como são as pedras, as plantas, os peixes ou qualquer tipo de vida que vive do rio.
Fotos, filmes, vídeos, roupas, sapatos, comidas são sinais de um tempo presente ou que já passou. Para o esporte, uma bola, um tênis, uma camisa denunciam as marcas de um tempo e da tecnologia de que se dispunha na época em que o artefato foi desenvolvido. Acho o máximo pensar que já se jogou basquete ou vôlei com uma bola costurada à mão. Imaginem o que foi entrar em Roland Garros com saia longa e raquete de madeira.

Como cantou o poeta Cazuza, o tempo não para.

Essa semana li uma postagem de Wlamir Marques, um dos remanescentes da seleção campeã mundial de basquete que reclamava, justamente, do esquecimento do título conquistado em janeiro de 1959. Ou seja, esse título fez 60 anos e pouco ou nada se falou e escreveu sobre isso. Pois bem, Wlamir. Aqui estou eu para lembrar e reconhecer aquela equipe maravilhosa, liderada pelo técnico Kanela e composta por você, Amaury Pasos, Pecente, Waldemar Blatskauskas, Jatyr Schall, Rosa Branca, Édson Bispo, Algodão, Fernando Bro Bro, Waldir Boccardo, Otto Nóbrega e Zezinho, que ousou ser a melhor, naquele mundial realizado no Chile. Sim, já se vão 60 anos e depois daquele campeonato ainda veio o bi, em 1963 e mais duas medalhas olímpicas de bronze. Como esquecer um feito como esse? Mas, a memória de muitos é mesmo curta e colabora para o apagamento de uma história de glória.

O basquete viveu seus anos dourados naquela época e deixou como legado outras tantas gerações de atletas grandiosos, mas que nunca conquistaram os títulos de vocês. É verdade.
Alguns daqueles atletas, como Waldemar Blatskauskas, hoje emprestam seu nome a ginásios esportivos onde garotos e garotas aprendem os primeiros gestos com a bola, buscando alcançar a cesta. Seria apenas mais um ginásio não fosse ele batizado em homenagem a alguém que ousou sair da média e se dedicar a ser um grande atleta. E conquistar um título mundial.

Outros ainda estão vivos, como você Wlamir, e justamente reclamam a lembrança de um momento raro em vida. Era o que se esperaria de um país que possui tão poucos títulos mundiais e marcas memoráveis. 
Mas, não se preocupe com a falta de reconhecimento, porque isso nunca será esquecimento. Esse é um dos deslumbramentos do esporte. Títulos e marcas permanecerão vivos porque estão registrados na história de quem viu e ouviu falar sobre o feito. E correm com o tempo em direção à imensidão do mar da memória.

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