Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

Educar tem capacidade de transformar o ser humano

Esporte não vive sem a educação e carrega cultura na qual é produzido

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Educação é o tema da vez. Não porque levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas essa semana. Não porque estudantes, professores, pesquisadores e pais entendem a importância de se ter o acesso à informação que forma e não deforma, ou conforma. Não porque se deseja ter a liberdade de pensar e interrogar, de forma construtiva, sobre qualquer tema. Mas, simplesmente, porque a educação humaniza.

Afirmam que aquilo que distingue o ser humano dos animais é a capacidade de produzir cultura. Embora complexa, essa assertiva, sintetiza uma construção teórica produzida dentro de um espaço acadêmico que prima pelo debate, que envolve embates infinitos, que privilegia, acima de tudo o respeito à antítese. Humanos abstraem, condição fundamental para pensar, antecipar, produzir conhecimento, razão de ser das escolas e universidades.

Em tempos de control c, control v (comando em computadores que copia e cola sem qualquer restrição ou elaboração) a educação promove a reflexão sobre o ato de reproduzir sem compromisso ideias que não são próprias de um autor. Desvenda os desvios interpretativos de atos e fatos que transformam um registro histórico, ou uma memória, em uma mentira, que de tanto ser compartilhada assume ares de verdade.

Ainda que no Brasil a educação pública tenha pouco mais de um século de existência, sua afirmação como direito não se deu sem lutas árduas. Foi, e continua a ser, no espaço da escola e da universidade que se construiu, a duras penas, aquilo que chamamos de identidade. Não é simples responder à questão quem somos, de onde viemos e para onde iremos. Fosse fácil, não seria a marca de uma esfinge. Seja de forma individual, ou coletiva, é pelo pensamento e pelo conhecimento, de si e das coisas, que se produz a consciência. Impedir que esse processo se dê de forma plena, seja pela censura ou pelo desvio do ato de pensar, significa estagnar ou retroceder a níveis já superados.

 Por isso tanta gente foi às ruas. A liberdade de pensar tem gosto de picolé em dia de verão, de chocolate quente no inverno, de feijoada com os amigos, de pudim de leite depois do almoço. Nada pode ser mais saboroso do que descobrir o que um texto difícil quis dizer, não nas palavras de alguém, mas pela capacidade própria de decifrar aquele enigma. E, desse momento em diante, cada ser pensante se torna um guardião do direito de ler com os próprios olhos, de pensar com a própria cabeça para intervir na sua comunidade ou pelo mundo afora.

 

Isso é educação.

Não consigo pensar o esporte fora desse contexto. Como um gesto humano intencional ele também carrega a cultura na qual ele é produzido. Ainda que seja espontâneo em sua estrutura, como gesto motor, ele depende cada vez mais do conhecimento produzido e testado dentro da universidade. O esporte não vive sem a educação. Isso é fato. Desmontar a universidade significa retroceder em tudo o que foi produzido até aqui não para um atleta qualquer, mas para todas aquelas e todos aqueles jovens que se desenvolveram em diferentes regiões desse país e trazem consigo as especificidades das culturas locais em seus genes, em suas atitudes, em suas personalidades. E serão os pesquisadores brasileiros quem saberão e poderão desvendar essas informações dentro de seus laboratórios, em seus grupos de pesquisa, nas salas de aula, afinal, não somos seres quaisquer.

Educação e cultura caminham juntas e de mãos dadas. São e estão na sociedade com a finalidade de promover bem-estar, produzir tecnologia e ampliar o pensamento, ou seja, transformar um ser qualquer em humano.

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